Militares da reserva das Forças Armadas estimularam os ataques golpistas contra as sedes dos três Poderes no dia 8 e acabaram presos.
Com um cruzamento de dados entre a lista de presos e os
cadastros de militares da ativa e aposentados, o UOL encontrou quatro militares
da reserva e um ex-militar entre os detidos.
INCITAÇÃO
DE DESORDEM E VÍDEO APÓS PRISÃO
O preso com mais alta patente é Nader
Luis Martins, capitão da reserva do Exército —ele deixou o serviço ativo em
fevereiro de 2018, segundo dados do Portal da Transparência da União.
*Morador de Curitiba, ele participou de
um acampamento golpista em frente a um quartel do Exército na capital do PR;
*Antes dos ataques aos três Poderes, foi
para Brasília e acampou em frente ao QG do Exército, principal reduto de
extremistas do país;
*Na véspera dos ataques, em 7 de
janeiro, ele publicou um vídeo em seu Facebook estimulando ações violentas em
Brasília.
“Bora povo brasileiro causar a desordem na
cidade. Com desordem e tumulto vira o caos. Somente assim será acionado a GLO
[decreto de Garantia da Lei e da Ordem]. Cantar em frente ao quartel não dá
mais. Povo nas refinarias e nas ruas. Para ônibus, carros e vamos em frente.
Trava tudo." (Nader Luis Martins, capitão da reserva preso no ato golpista).
Como outros presos, Nader usou o celular
dentro da detenção, no ginásio da PF, para reclamar do tratamento recebido
pelos golpistas.
“Fomos detidos por participar da manifestação
ontem lá na Esplanada dos Ministérios. Fomos considerados terroristas."
O UOL procurou o Exército para comentar
a conduta de Nader, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.
MILITÂNCIA
POLÍTICA NA ATIVA
Outro militar preso por envolvimento
direto no ato golpista foi o suboficial da reserva da Marinha Marco Antonio
Braga Caldas, que mora em Balneário Piçarras, no litoral catarinense.
*Ele deixou o serviço ativo em novembro
de 2021, segundo dados do Portal da Transparência da União;
*No entanto, suas redes sociais mostram
que ele participa ativamente da militância bolsonarista ao menos desde 2018,
quando ainda estava na ativa;
*Militares da ativa são proibidos de se
manifestar politicamente sem que haja autorização expressa de seus comandantes;
*Caldas também fez vídeos nas redes
sociais no acampamento golpista em frente ao QG do Exército em 8 de janeiro;
Ele participou da marcha do acampamento
até a Praça dos Três Poderes e, em vídeo, destacou a disposição de depor o
governo eleito e estimular um golpe militar — chamado por ele de intervenção
federal, replicando o termo usado por bolsonaristas em protestos golpistas em
novembro.
Caldas enumera os pleitos que eram
defendidos pelos golpistas. “Dizer definitivamente não ao comunismo. Não
à chapa Lula-Alckmin. A nulidade desta chapa. A intervenção federal."
(Marco Antonio Braga Caldas, suboficial da reserva da Marinha preso em Brasília).
Procurada, a Marinha afirmou que a
violação dos deveres e obrigações previstos no Estatuto dos Militares pode
constituir "crime, contravenção ou
transgressão disciplinar, conforme dispuser a legislação ou regulamentação
específicas" e que o não cumprimento desses deveres pode acarretar
"responsabilidade funcional,
pecuniária, disciplinar ou penal".
"Nesse sentido, as providências são tomadas de acordo com o caso
concreto, após conclusão de eventual processo administrativo disciplinar, com o
exercício da ampla defesa e do contraditório, para, se for o caso, aplicação de
sanções pertinentes", conclui a nota.
ENVOLVIMENTO
DE OUTROS MILITARES
O UOL identificou outros três nomes
ligados às Forças Armadas que constam na lista de presos por envolvimento no
ato golpista.
*O segundo-sargento Noêmio Laerte
Hochscheidt e o soldado Robson Victor de Souza, ambos militares da reserva do
Exército;
*Arthur de Lima Timóteo serviu como cabo da FAB (Força Aérea
Brasileira) até julho de 2022.
Segundo a FAB, ele foi dispensado após o fim de
seu tempo de serviço militar obrigatório e atualmente não mantém vínculo com a
força;
*Além dos presos, o UOL identificou a
participação de Marcelo Soares Corrêa, cabo da reserva do Exército, no ato
golpista.
Ele foi recebido em agendas oficiais pelo ex-vice-presidente Hamilton Mourão
(Republicanos-RS) e tomou café no Palácio da Alvorada com Bolsonaro;
(Uol)
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