O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa teceu críticas aos militares e defendeu a troca de comando do Exército feita por Lula (PT) neste domingo (22) ao rebater críticas feitas pelo ex-vice-presidente da República e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS).
Lula demitiu o comandante do Exército,
general Júlio Cesar de Arruda, em meio a uma crise de confiança aberta após os
ataques do dia 8 de janeiro, em Brasília.
À
Folha,
Mourão afirmou que o mandatário quer alimentar a crise com as Forças Armadas e
que a decisão seria péssima para o país.
"Ora, ora, senhor Hamilton Mourão.
Poupe-nos da sua hipocrisia, do seu reacionarismo, da sua cegueira deliberada e
do seu facciosismo político! Fatos são fatos! Mais respeito a todos os
brasileiros!", afirmou Joaquim Barbosa, em publicação nas redes
sociais.
"'Péssimo para o país' seria a
continuação da baderna, da 'chienlit' [baderna, em tradução livre] e da
insubordinação claramente inspirada e tolerada por vocês, militares. Senhor
Mourão, assuma o mandato [de senador] e aproveite a oportunidade para aprender
pela primeira vez na vida alguns rudimentos de democracia! Não subestime a
inteligência dos brasileiros!", escreveu ainda o ministro
aposentado.
A troca no Exército, a principal das
três Forças Armadas, ocorreu em meio a uma crise de confiança aberta após os
ataques do dia 8 de janeiro, em Brasília.
Segundo auxiliares do presidente, a
decisão foi tomada porque o agora ex-comandante Júlio Cesar de Arruda não
demonstrou disposição de tomar providências imediatas para reduzir as
desconfianças de Lula em relação a militares do Exército após a invasão do
Palácio do Planalto e das sedes do STF (Supremo Tribunal Federal) e do
Congresso.
Arruda relutou em expor o Comando
Militar do Planalto, que no mínimo falhou no dia 8.
Ele também estava no comando da Força
quando o Exército impediu que a Polícia Militar realizasse prisões de vândalos
ainda no dia 8 de janeiro, no acampamento golpista em frente ao quartel-general
do Exército, em Brasília.
De acordo com relatos de aliados de Lula
e generais ouvidos pela Folha, a gota d'água para exoneração foi Arruda ter
resistido ao pedido de Múcio para que o tenente-coronel Mauro Cid fosse
retirado do comando de um batalhão do Exército em Goiânia (GO).
Cid foi ajudante de ordens de Jair
Bolsonaro (PL) e, como a Folha revelou, entrou na mira da Polícia Federal após
serem identificadas transações suspeitas no gabinete do mandatário.
O militar está nos EUA com o
ex-presidente.
"Se o motivo foi tentativa de
pedir a cabeça de algum militar, sem que houvesse investigação, mostra que o
governo realmente quer alimentar uma crise com as Forças e em particular com o
Exército. Isso aí é péssimo para o país", disse Mourão ao comentar
o caso.
(Mônica Bergamo, por Folha de São Paulo)
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