Eleito nas eleições de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse na tarde deste domingo (1º/01) e se tornou presidente da República pela terceira vez.
Junto do vice-presidente empossado,
Geraldo Alckmin (PSB), Lula assinou o termo de posse no Congresso Nacional, em
Brasília.
A cerimônia foi presidida por Rodrigo
Pacheco, presidente do Senado, e teve homenagens pela morte de Pelé e do papa
emérito Bento XVI.
No discurso de posse, Lula enalteceu a
democracia, criticou desmontes durante o governo Bolsonaro e elencou as
prioridades do novo governo.
Leia a íntegra:
Pela
terceira vez compareço a este Congresso Nacional para agradecer ao povo
brasileiro o voto de confiança que recebemos.
Renovo o juramento de fidelidade
à Constituição da República, junto com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e os
ministros que conosco vão trabalhar pelo Brasil.
Se
estamos aqui é graças à consciência política da sociedade brasileira e à frente
democrática que formamos.
Foi
a democracia a grande vitoriosa, superando a maior mobilização de recursos
públicos e privados que já se viu; as mais violentas ameaças à liberdade do
voto.
Ao
retornar a este plenário da Câmara dos Deputados, onde participei da Assembleia
Constituinte de 1988, recordo com emoção os embates que travamos aqui,
democraticamente, para inscrever na Constituição o mais amplo conjunto de
direitos sociais, individuais e coletivos.
Disse,
naquela ocasião, que a missão de minha vida estaria cumprida quando cada
brasileiro e brasileira pudesse fazer 3 refeições por dia.
Ter
de repetir este compromisso no dia de hoje é o mais grave sintoma da devastação
que se impôs ao país nos anos recentes.
Quando
fui eleito presidente pela primeira vez, ao lado do José Alencar, iniciei o
discurso de posse com a palavra “mudança”.
A
mudança que pretendíamos era simplesmente concretizar os preceitos
constitucionais.
O
direito à vida digna, sem fome, com acesso ao emprego, saúde e educação.
Nossa
mensagem ao Brasil é de esperança e reconstrução.
O
grande edifício de direitos, de soberania e de desenvolvimento que esta Nação
levantou vinha sendo sistematicamente demolido nos anos recentes.
É
para reerguer este edifício que vamos dirigir todos os nossos esforços.
Em
2002, dizíamos que a esperança tinha vencido o medo, no sentido de superar os
temores diante da inédita eleição de um representante da classe trabalhadora.
Em
oito anos de governo deixamos claro que os temores eram infundados.
Do
contrário, não estaríamos aqui novamente.
Ficou
demonstrado que era possível, sim, governar este país com a mais ampla
participação social, incluindo os trabalhadores e os mais pobres no orçamento e
nas decisões de governo.
Ficou
demonstrado que um representante da classe trabalhadora podia, sim, dialogar
com a sociedade para promover o crescimento econômico de forma sustentável e em
benefício de todos, especialmente dos mais necessitados.
Ao
longo desta campanha eleitoral vi a esperança brilhar nos olhos de um povo
sofrido, em decorrência da destruição de políticas públicas que promoviam a cidadania,
os direitos essenciais, a saúde e a educação.
É
sobre estas terríveis ruínas que assumo o compromisso de, junto com o povo
brasileiro, reconstruir o país e fazer novamente um Brasil de todos e para
todos.
O
diagnóstico que recebemos do Gabinete de Transição é estarrecedor.
Esvaziaram
os recursos da Saúde. Desmontaram a Educação, a Cultura, Ciência e Tecnologia.
Destruíram
a proteção ao Meio Ambiente.
Não
deixaram recursos para a merenda escolar, a vacinação, a segurança pública.
Diante
do desastre orçamentário que recebemos, apresentei ao Congresso Nacional
propostas que nos permitam apoiar a imensa camada da população que necessita do
estado para sobreviver.
Agradeço à Câmara e ao Senado pela sensibilidade frente
às urgências do povo brasileiro.
Nossas
primeiras ações visam a resgatar da fome 33 milhões de pessoas e resgatar da
pobreza mais de 100 milhões de brasileiras e brasileiros, que suportaram a mais
dura carga do projeto de destruição nacional que hoje se encerra.
Nenhuma
nação se ergueu nem poderá se erguer sobre a miséria de seu povo.
Este
compromisso começa pela garantia de um Programa Bolsa Família renovado, mais
forte e mais justo, para atender a quem mais necessita.
A
liberdade que sempre defendemos é a de viver com dignidade, com pleno direito
de expressão, manifestação e organização.
A
liberdade que eles pregam é a de oprimir o vulnerável, massacrar o oponente e
impor a lei do mais forte acima das leis.
O nome disso é barbárie.
A
partir de hoje, a Lei de Acesso à Informação voltará a ser cumprida, o Portal
da Transparência voltará a cumprir seu papel, os controles republicanos
voltarão a ser exercidos para defender o interesse público.
Não
carregamos nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a Nação a
seus desígnios pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da lei.
Quem
errou responderá por seus erros, com direito amplo de defesa, dentro do devido
processo legal.
O
mandato que recebemos, frente a adversários inspirados no fascismo, será
defendido com os poderes que a Constituição confere à democracia.
ódio,
responderemos com amor.
À
mentira, com verdade.
Ao
terror e à violência, responderemos com a Lei e suas mais duras consequências.
Sob
os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais!
Hoje,
depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para
sempre!
Hoje
mesmo estou assinando medidas para reorganizar as estruturas do Executivo, de
modo que voltem a permitir o funcionamento do governo de maneira racional,
republicana e democrática.
Em
diálogo com os 27 governadores, vamos definir prioridades para retomar obras
irresponsavelmente paralisadas, que são mais de 14 mil no país.
Vamos
retomar o Minha Casa Minha Vida e estruturar um novo PAC para gerar empregos na
velocidade que o Brasil requer.
Vamos
impulsionar as pequenas e médias empresas, potencialmente as maiores geradoras
de emprego e renda, o empreendedorismo, o cooperativismo e a economia criativa.
A
roda da economia vai voltar a girar e o consumo popular terá papel central
neste processo.
O
Brasil pode e deve figurar na primeira linha da economia global.
Caberá
ao estado articular a transição digital e trazer a indústria brasileira para o
Século XXI, com uma política industrial que apoie a inovação, estimule a
cooperação público-privada e fortaleça a ciência.
Nenhum
outro país tem as condições do Brasil para se tornar uma grande potência
ambiental.
Vamos
iniciar a transição energética e ecológica para uma agropecuária e uma
mineração sustentáveis, uma agricultura familiar mais forte, uma indústria mais
verde.
Nossa
meta é alcançar desmatamento zero na Amazônia e emissão zero de gases do efeito
estufa na matriz elétrica, além de estimular o reaproveitamento de pastagens
degradadas.
O
Brasil não precisa desmatar para manter e ampliar sua estratégica fronteira
agrícola. Incentivaremos, sim, a prosperidade na terra. Liberdade e
oportunidade de criar, plantar e colher continuará sendo nosso objetivo.
O
que não podemos admitir é que seja uma terra sem lei.
Não
vamos tolerar a violência contra os pequenos, o desmatamento e a degradação do
ambiente.
Esta
é uma das razões, não a única, da criação do Ministério dos Povos Indígenas.
Ninguém
conhece melhor nossas florestas nem é mais eficaz de defendê-las do que os que
estavam aqui desde tempos imemoriais.
Vamos revogar todas as injustiças cometidas
contra os povos indígenas.
Estamos
refundando o Ministério da Cultura, com a ambição de retomar mais intensamente
as políticas de incentivo e de acesso aos bens culturais, interrompidas pelo
obscurantismo nos últimos anos.
Uma
política cultural democrática não pode temer a crítica nem eleger favoritos.
Não
é admissível que negros e pardos continuem sendo a maioria pobre e oprimida.
Criamos
o Ministério da Promoção da Igualdade Racial para ampliar a política de cotas,
além de retomar as políticas voltadas para o povo negro e pardo na saúde,
educação e cultura.
Que
brotem todas as flores e sejam colhidos todos os frutos da nossa criatividade.
Que
todos possam dela usufruir, sem censura nem discriminações.
É
inadmissível que as mulheres recebam menos que os homens, realizando a mesma
função.
Que
não sejam reconhecidas em um mundo político machista.
Que
sejam assediadas impunemente nas ruas e no trabalho.
Que
sejam vítimas da violência dentro e fora de casa.
Estamos
refundando também o Ministério das Mulheres para demolir este castelo secular
de desigualdade e preconceito.
Sob
a proteção de Deus, inauguro este mandato reafirmando que no Brasil a fé pode
estar presente em todas as moradas, nos diversos templos, igrejas e cultos.
Neste
país todos poderão exercer livremente sua religiosidade.
O
período que se encerra foi marcado por uma das maiores tragédias: a Covid-19.
Em
nenhum outro país a quantidade de vítimas fatais foi tão alta proporcionalmente
à população quanto no Brasil, um dos países mais preparados para enfrentar
emergências sanitárias, graças ao SUS.
O
Ministério da Justiça e da Segurança Pública atuará para harmonizar os Poderes
e entes federados no objetivo de promover a paz onde ela é mais urgente: nas
comunidades pobres, no seio das famílias vulneráveis ao crime organizado, às
milícias e à violência, venha de onde vier.
Este
paradoxo só se explica pela atitude criminosa de um governo negacionista e
insensível à vida.
As
responsabilidades por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar
impunes.
O
que nos cabe, no momento, é prestar solidariedade aos familiares de quase 700
mil vítimas.
Estamos
revogando os criminosos decretos de ampliação do acesso a armas e munições, que
tanta insegurança e tanto mal causaram às famílias brasileiras.
O
Brasil não quer mais armas; quer paz e segurança para seu povo.
O
modelo que propomos, aprovado nas urnas, exige, sim, compromisso com a
responsabilidade, a credibilidade e a previsibilidade.
Não
podemos fazer diferente.
Teremos de fazer melhor.
Os
olhos do mundo estiveram voltados para o Brasil nestas eleições.
O
mundo espera que o Brasil volte a ser um líder no enfrentamento à crise climática
e um exemplo de país social e ambientalmente responsável, capaz de promover o
crescimento econômico com distribuição de renda.
O
Brasil tem de ser dono de si mesmo, dono de seu destino.
Tem de voltar a ser um
país soberano.
Com
soberania e responsabilidade seremos respeitados para compartilhar essa
grandeza com a humanidade – solidariamente, jamais com subordinação.
A
relevância da eleição no Brasil refere-se, por fim, às ameaças que o modelo
democrático vem enfrentando.
Ao
redor do planeta, articula-se uma onda de extremismo autoritário que dissemina
o ódio e a mentira por meios tecnológicos que não se submetem a controles
transparentes.
Reafirmo, para o Brasil e para o mundo, a convicção de que a
Política, em seu mais elevado sentido – e apesar de todas as suas limitações –
é o melhor caminho para o diálogo entre interesses divergentes.
Negar
a política, desvalorizá-la e criminalizá-la é o caminho das tiranias.
Minha
mais importante missão será honrar a confiança recebida e corresponder às
esperanças de um povo sofrido, que jamais perdeu a fé no futuro nem em sua
capacidade de superar os desafios.
Com
a força do povo e as bênçãos de Deus, haveremos der reconstruir este país.
(Por
ig)
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