Após a onda de ataques e ameaças de atentados contra escolas que sucederam o assassinato de quatro crianças em uma creche em Blumenau (SC), parlamentares da Câmara e do Senado aceleraram a apresentação de medidas para tentar impedir novos ataques.
A pesquisadora Letícia Oliveira,
especialista em monitoramento digital de agrupamentos de extrema-direita,
alerta que a maior parte das propostas apresentadas tende a piorar a situação.
Nas duas casas legislativas, uma série
de audiências públicas foi convocada para tratar dos ataques escolares.
Letícia, que monitora células envolvidas
em atentados do tipo há 11 anos, foi convidada pela Comissão de Previdência,
Assistência Social, Infância, Adolescência e Família para orientar o colegiado
sobre o tema.
Na Câmara dos Deputados, levantamento do
jornal Estado de Minas revela que 62 textos foram protocolados sobre esse tema.
Entre eles, prevalece o recrudescimento da segurança escolar, solução proposta
em 46 projetos.
A proposta de recrudescimento se dá na
forma de contratação de seguranças escolares, estabelecimento de rondas
policiais dentro das escolas, instalação obrigatória de câmeras de segurança e
detectores de metais, e até mesmo projetos que fomentem o uso de armas de fogo
entre funcionários de escolas.
No Senado, parlamentares protocolaram
projetos semelhantes, mas em quantidade muito menor.
Letícia Oliveira explica que a natureza
dos atentados escolares e o perfil de seus autores tornam as políticas
convencionais de segurança ineficazes, pois não atuam na origem do problema. “Esses
crimes partem de comunidades virtuais, onde homens e meninos entram levados por
sentimentos de frustração social, familiar, escolar e em seus relacionamentos.
Eles se juntam nessas comunidades para acolher uns aos outros, e acabam tendo
contato com ideologias extremistas que evoluem até o neonazismo”,
descreveu.
Apesar da explosão recente, esse tipo de
atentado não é novo no Brasil.
Episódios semelhantes ocorrem com alguma
frequência desde 2011, com o massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, no
bairro do Realengo, no Rio, ou em 2019, com o ataque na Escola Estadual
Professor Raul Brasil, em Suzano (RS).
Nos Estados Unidos, o histórico é ainda
mais amplo, somando mais de 300 atentados desde a chacina de Columbine, 24 anos
atrás.
A pesquisadora conta que, na maioria
desses casos, a instalação de segurança ostensiva e policiais no ambiente
escolar acabou piorando a situação.
“Nos EUA, tudo isso já foi tentado e não
funcionou. Os autores, em grande parte, buscam confronto com a polícia. Se eles
veem um policial armado dentro da escola, eles acabam preferindo justamente
atacar essa escola”, alertou.
No caso do Brasil, esse padrão se
repetiu.
“Em Vitória, em 2022, rastreamos um atentado
escolar vindo de uma dessas comunidades. As autoridades de segurança o pegaram
vivo, e ele afirmou que queria matar seis ou sete pessoas e depois queria
morrer durante o confronto com a polícia”, relembrou.
Ela também aponta para a inexistência de
um protocolo de segurança para que a presença de detectores de metais possam
surtir efeito nas escolas.
Paralelamente ao debate no Legislativo,
o Ministério da Justiça liberou R$ 150 milhões para que estados municípios
invistam em políticas de prevenção a atentados escolares.
Até o momento, o recurso vem sendo
empregado em reforço das patrulhas de polícias militares e guardas municipais
em áreas escolares.
Letícia propõe uma outra forma de
aplicação desse dinheiro.
“Uma solução é investir nas comunidades
escolares em projetos que trabalhem na própria comunidade escolar. Isso não
trata de trazer a polícia para dentro da escola. O melhor caminho é realizar
acompanhamento pedagógico e psicológico para acolher estudantes que possam
estar passando por algum problema. Além disso, investir em inteligência para
rastrear possíveis ameaças”, propôs.
(Lucas Neiva – Congresso em foco)
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