Segundo delegado responsável pelo caso, fake news foi a primeira hipótese levantada, mas acabou sendo descartada após novas evidências surgirem e apontarem para um crime envolvendo um relacionamento conturbado.
A Polícia Civil em Guarujá, no litoral
de São Paulo, descartou a linha de investigação de que a morte de Osil Vicente
Guedes, brutalmente espancado por quatro pessoas na cidade, tenha sido motivada
por fake news.
A hipótese, investigada pela corporação
no início das diligências, foi substituída após novas evidências apontarem para
um crime com motivação passional.
De acordo com o delegado Rubens Eduardo
Barazal, que conversou com o g1 nesta quinta-feira (11/05), o homem que disse
em vídeo que Osil estava sendo espancado por roubar uma moto estava errado.
As imagens da agressão viralizaram nas
redes sociais.
"Acho que ele foi induzido ao
erro. Na situação, talvez, por equívoco, ele tenha achado que se tratava de um
furto e que pegaram o cara e começaram a bater nele", explica.
Com a investigação avançada, a polícia
eliminou a hipótese.
"[A investigação da morte por fake
news] foi veiculada, mas está desconstruída pelo aparecimento de outros fatos
que levam a outro caminho na investigação. Muito provavelmente ocorreu por
conta de um ato ligado a um relacionamento problemático que ele tinha com a ex.
Um ex-cunhado dela está entre os autores do espancamento".
A Polícia Civil identificou três
suspeitos de espancarem Osil.
Uma prisão preventiva já foi decretada,
outra está em análise e a terceira deve ser solicitada à Justiça nos próximos
dias.
"Já havia ocorrido uma primeira
agressão ao Osil, quando ele teria ido até a casa da ex-namorada, um ou dois
dias antes do espancamento. Ele teria ingressado na clínica dela, que é
psicóloga, e praticado alguma agressão e quebrado algumas coisas. Quando ele
saiu, já sofreu o primeiro espancamento", diz.
"Tivemos três fases na
investigação. A primeira foi a questão da fake news da moto. A segunda, que era
a identificação direta dos autores de acordo com as cenas de barbárie
divulgadas pelo g1. A terceira, com a primeira motivação descartada, é na linha
desse conflito com a ex-namorada, que tem vínculos com elementos com
antecedentes criminais", finaliza.
IRMÃO
DE OSIL
Em depoimento no 2º DP de Guarujá, o
irmão de Osil, que não quis ser identificado, afirmou que teve acesso a uma
mensagem de voz de Osil falando que ele teve uma briga com a mulher.
Ela relatou que um dia antes de ser
espancado, Osil havia ‘tomado uma surra’ a mando dela, o que teria motivado a
última briga do casal.
EX-NAMORADA
DE OSIL
A ex-namorada de Osil declarou à Polícia
Civil que ele estava transtornado com o fim do relacionamento e estava tomando
medicações para tirar a própria vida.
O g1 teve acesso ao depoimento que a psicóloga
deu às autoridades policiais.
Ela esteve no 2º Distrito Policial (DP)
de Guarujá, na quinta-feira (04), um dia após o linchamento de Osil.
A psicóloga contou à Polícia Civil que
namorou com Osil entre junho de 2022 e 29 de abril de 2023.
O relacionamento terminou no último
sábado (29).
Ela teria pedido que o namorado fosse
embora da casa dela, porque não queria que ele dormisse lá naquela noite.
Osil saiu junto com o filho, de 9 anos,
e "e teria afirmado que já como ela 'não queria que ele dormisse lá, então
estaria terminado o relacionamento".
A mulher disse que concordou, e o ex foi
embora.
No dia seguinte, no domingo (30), ele
teria retornado a casa dela para devolver a chave.
Na ocasião, segundo a mulher, Osil teria
dito que a partir daquele momento teria uma "vida nova, porque ele se mataria
no dia seguinte, e que iria se jogar na [rodovia] Piaçaguera se os remédios não
lhe matassem", relatou a ex.
Ainda segundo a psicóloga, Osil foi para
a casa dele e começou a enviar vídeos para ela.
Nas imagens, ele aparecia tomando vários
remédios.
Ela afirmou que não conseguiu ver quais
eram os medicamentos, mas viu que ele ‘colocava vários remédios no copo e
tomava com coca-cola’.
Ele também teria pedido que a mulher
fosse buscar o filho dele, depois que ele morresse.
A mulher aconselhou que ele deixasse o
filho com ela.
Momentos depois, ela avisou o irmão de
Osil sobre o ocorrido.
O tio do menino foi buscá-lo e o levou
para casa.
A psicóloga acrescentou que o ex não fez
mais contato durante a noite de domingo e nem na segunda-feira (1).
Na terça-feira (2), um dia antes de Osil
ser espancado, a psicóloga contou que estava em atendimento no consultório
quando ele chegou.
Ela pediu que ele fosse embora.
Não houve discussão, segundo ela.
Porém, Osil teria retornado durante a noite.
“Ele chegou transtornado. Pulou o muro e
entrou na casa. Começou a bater na porta gritando. [...] Ele ficou transtornado
e começou a quebrar coisas”, declarou.
Ela teria chamado a Polícia Militar
(PM). Segundo ela, os policiais foram até a casa e ela os atendeu do lado de
dentro da residência.
Quando os agentes foram embora, ela fechou a porta e foi
dormir.
Ela acrescentou que, mesmo assim, Osil voltou, mas ela não sabe o que
houve, porque já tinha fechado a porta.
A psicóloga finalizou o depoimento
afirmando que, na quarta-feira (3), dia do espancamento, Osil não telefonou
para ela e não foi na casa dela.
Ela soube que algo tinha acontecido com
Osil porque uma sobrinha dele comentou com ela.
Porém, a mulher teria respondido para a
sobrinha que ‘não queria saber de nada da vida de Osil’.
Ela disse que ficou sabendo que Osil foi
agredido na rua somente no dia 4.
ENTENDA
O CASO
A vítima foi espancada por um grupo de
pessoas entre a Rua Tambaú e a Avenida Oswaldo Cruz, em Vicente de Carvalho, em
Guarujá, na tarde do dia 3 de maio.
Testemunhas relataram aos policiais que
atenderam a ocorrência que gritos de "pega ladrão" foram direcionados
a Osil.
Um motorista flagrou o momento das
agressões.
O dono do veículo informou à Polícia
Militar ter emprestado a motocicleta para Osil antes das agressões acontecerem.
Segundo o homem, ele era uma pessoa
"trabalhadora" e que "não se metia em confusão".
Osil sofreu um traumatismo craniano por
conta das agressões.
O Hospital Santo Amaro (HSA) informou
que o paciente teve uma morte encefálica [parada de todas as funções do
cérebro] no dia 6 de maio e a morte foi confirmada no dia seguinte.
Segundo a Secretaria de Segurança
Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), o caso inicialmente foi registrado
como "lesão corporal" no 2º Distrito Policial (DP) de Guarujá, porém,
acabou modificado para "homicídio" após a morte de Osil.
(g1)
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