quinta-feira, 11 de maio de 2023

POLÍCIA DESCARTA FAKE NEWS EM CASO DE ESPANCAMENTO E PASSA A INVESTIGAR A HIPÓTESE DE CRIME PASSIONAL

Segundo delegado responsável pelo caso, fake news foi a primeira hipótese levantada, mas acabou sendo descartada após novas evidências surgirem e apontarem para um crime envolvendo um relacionamento conturbado.

A Polícia Civil em Guarujá, no litoral de São Paulo, descartou a linha de investigação de que a morte de Osil Vicente Guedes, brutalmente espancado por quatro pessoas na cidade, tenha sido motivada por fake news.
A hipótese, investigada pela corporação no início das diligências, foi substituída após novas evidências apontarem para um crime com motivação passional.
De acordo com o delegado Rubens Eduardo Barazal, que conversou com o g1 nesta quinta-feira (11/05), o homem que disse em vídeo que Osil estava sendo espancado por roubar uma moto estava errado.
As imagens da agressão viralizaram nas redes sociais.
"Acho que ele foi induzido ao erro. Na situação, talvez, por equívoco, ele tenha achado que se tratava de um furto e que pegaram o cara e começaram a bater nele", explica.
Com a investigação avançada, a polícia eliminou a hipótese.
"[A investigação da morte por fake news] foi veiculada, mas está desconstruída pelo aparecimento de outros fatos que levam a outro caminho na investigação. Muito provavelmente ocorreu por conta de um ato ligado a um relacionamento problemático que ele tinha com a ex. Um ex-cunhado dela está entre os autores do espancamento".
A Polícia Civil identificou três suspeitos de espancarem Osil.
Uma prisão preventiva já foi decretada, outra está em análise e a terceira deve ser solicitada à Justiça nos próximos dias.
"Já havia ocorrido uma primeira agressão ao Osil, quando ele teria ido até a casa da ex-namorada, um ou dois dias antes do espancamento. Ele teria ingressado na clínica dela, que é psicóloga, e praticado alguma agressão e quebrado algumas coisas. Quando ele saiu, já sofreu o primeiro espancamento", diz.
"Tivemos três fases na investigação. A primeira foi a questão da fake news da moto. A segunda, que era a identificação direta dos autores de acordo com as cenas de barbárie divulgadas pelo g1. A terceira, com a primeira motivação descartada, é na linha desse conflito com a ex-namorada, que tem vínculos com elementos com antecedentes criminais", finaliza.
IRMÃO DE OSIL
Em depoimento no 2º DP de Guarujá, o irmão de Osil, que não quis ser identificado, afirmou que teve acesso a uma mensagem de voz de Osil falando que ele teve uma briga com a mulher.
Ela relatou que um dia antes de ser espancado, Osil havia ‘tomado uma surra’ a mando dela, o que teria motivado a última briga do casal.
EX-NAMORADA DE OSIL
A ex-namorada de Osil declarou à Polícia Civil que ele estava transtornado com o fim do relacionamento e estava tomando medicações para tirar a própria vida.
O g1 teve acesso ao depoimento que a psicóloga deu às autoridades policiais.
Ela esteve no 2º Distrito Policial (DP) de Guarujá, na quinta-feira (04), um dia após o linchamento de Osil.
A psicóloga contou à Polícia Civil que namorou com Osil entre junho de 2022 e 29 de abril de 2023.
O relacionamento terminou no último sábado (29).
Ela teria pedido que o namorado fosse embora da casa dela, porque não queria que ele dormisse lá naquela noite.
Osil saiu junto com o filho, de 9 anos, e "e teria afirmado que já como ela 'não queria que ele dormisse lá, então estaria terminado o relacionamento".
A mulher disse que concordou, e o ex foi embora.
No dia seguinte, no domingo (30), ele teria retornado a casa dela para devolver a chave.
Na ocasião, segundo a mulher, Osil teria dito que a partir daquele momento teria uma "vida nova, porque ele se mataria no dia seguinte, e que iria se jogar na [rodovia] Piaçaguera se os remédios não lhe matassem", relatou a ex.
Ainda segundo a psicóloga, Osil foi para a casa dele e começou a enviar vídeos para ela.
Nas imagens, ele aparecia tomando vários remédios.
Ela afirmou que não conseguiu ver quais eram os medicamentos, mas viu que ele ‘colocava vários remédios no copo e tomava com coca-cola’.
Ele também teria pedido que a mulher fosse buscar o filho dele, depois que ele morresse.
A mulher aconselhou que ele deixasse o filho com ela.
Momentos depois, ela avisou o irmão de Osil sobre o ocorrido.
O tio do menino foi buscá-lo e o levou para casa.
A psicóloga acrescentou que o ex não fez mais contato durante a noite de domingo e nem na segunda-feira (1).
Na terça-feira (2), um dia antes de Osil ser espancado, a psicóloga contou que estava em atendimento no consultório quando ele chegou. 
Ela pediu que ele fosse embora.
Não houve discussão, segundo ela.
Porém, Osil teria retornado durante a noite.
Ele chegou transtornado. Pulou o muro e entrou na casa. Começou a bater na porta gritando. [...] Ele ficou transtornado e começou a quebrar coisas”, declarou.
Ela teria chamado a Polícia Militar (PM). Segundo ela, os policiais foram até a casa e ela os atendeu do lado de dentro da residência. 
Quando os agentes foram embora, ela fechou a porta e foi dormir. 
Ela acrescentou que, mesmo assim, Osil voltou, mas ela não sabe o que houve, porque já tinha fechado a porta.
A psicóloga finalizou o depoimento afirmando que, na quarta-feira (3), dia do espancamento, Osil não telefonou para ela e não foi na casa dela.
Ela soube que algo tinha acontecido com Osil porque uma sobrinha dele comentou com ela.
Porém, a mulher teria respondido para a sobrinha que ‘não queria saber de nada da vida de Osil’.
Ela disse que ficou sabendo que Osil foi agredido na rua somente no dia 4.
ENTENDA O CASO
A vítima foi espancada por um grupo de pessoas entre a Rua Tambaú e a Avenida Oswaldo Cruz, em Vicente de Carvalho, em Guarujá, na tarde do dia 3 de maio.
Testemunhas relataram aos policiais que atenderam a ocorrência que gritos de "pega ladrão" foram direcionados a Osil.
Um motorista flagrou o momento das agressões.
O dono do veículo informou à Polícia Militar ter emprestado a motocicleta para Osil antes das agressões acontecerem.
Segundo o homem, ele era uma pessoa "trabalhadora" e que "não se metia em confusão".
Osil sofreu um traumatismo craniano por conta das agressões.
O Hospital Santo Amaro (HSA) informou que o paciente teve uma morte encefálica [parada de todas as funções do cérebro] no dia 6 de maio e a morte foi confirmada no dia seguinte.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), o caso inicialmente foi registrado como "lesão corporal" no 2º Distrito Policial (DP) de Guarujá, porém, acabou modificado para "homicídio" após a morte de Osil.
(g1)

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