Uma megaoperação com 222 ações de
fiscalização em 131 municípios de 22 estados e no Distrito Federal resgatou 532
pessoas de condições análogas às de escravo.
Desses, 441 são homens e 91 mulheres.
Seis são crianças e adolescentes e dez,
trabalhadoras domésticas - uma delas com 90 anos de idade.
A Operação Resgate 3, realizada ao longo
do mês de agosto, foi um esforço concentrado de auditores fiscais do Ministério
do Trabalho e Emprego, procuradores do Ministério Público do Trabalho e do
Ministério Público Federal, agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária
Federal e defensores da Defensoria Pública da União.
A operação está sendo considerada a
maior para o combate a esse crime na história do país, não pelo número de
resgatados (em 2007, 1.064 foram libertados em uma só fazenda de cana e usina
em Ulianópolis, no Pará), mas pela estrutura envolvida, a quantidade de ações
fiscais simultâneas e a diversidade de atuação.
"Não é possível que a gente
continue com empresas e pessoas físicas que coloquem um ser humano em trabalho
análogo à escravidão. Precisamos dar um basta nisso, provocar a sociedade à
indignação para dizer chega, basta, não é possível", afirmou o
ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, em coletiva à imprensa, na tarde
desta terça (05/09).
O evento contou com a presença dos
representantes das instituições, como José de Lima Pereira, procurador-geral do
Trabalho.
Marinho também destacou que a situação,
além de custar caro ao povo brasileiro, também pode cobrar um preço alto de
nossa balança comercial.
"Uma atividade econômica que
assume o risco dessa mancha coloca em risco a imagem dos nossos produtos",
disse.
O cultivo de café foi a atividade com o
maior número de resgatados, com 98 vítimas, quase empatada com o cultivo de
alho (97).
Na sequência, há o cultivo de cebola
(84), a extração de carnaúba (54), a produção de ovos (23), a produção de
cerâmica (22), a fabricação de álcool (20), a prestação de serviços a
restaurantes e similares, a produção de carvão a partir de floresta plantada e
o cultivo de laranja (17, cada), a criação de bovinos para corte (15), a
confecção de vestuário (13), os serviços domésticos e a construção civil (10,
cada), entre outros.
Desde 1995, quando o Brasil reconheceu
diante das Nações Unidas a persistência de trabalho escravo, mais de 61,7 mil
pessoas foram resgatadas por grupos de fiscalização com a participação dessas
instituições.
A diferença é que a Operação Resgate
realiza um ataque ao crime de forma simultânea, tanto na área urbana quanto na
rural.
Minas Gerais foi o estado com o maior
números de resgatados na operação, com 204 vítimas.
Na sequência, aparecem Goiás (126), São
Paulo (54), Piauí e Maranhão (42, cada), Bahia (11), Rio de Janeiro (9), Paraná
(8), Rio Grande do Sul, Tocantins e Acre (7, cada), Mato Grosso (6), Rondônia
(5), Pernambuco e Espírito Santo (2, cada).
"A Operação Resgate 3 demonstra o
compromisso do Estado em erradicar o trabalho escravo contemporâneo, com ações
nas grandes cidades, mas também em locais remotos. E deixa clara a importância
da cooperação entre entes públicos para atuar em problemas complexos. A
operação é, na sua essência, fruto da cooperação interinstitucional",
afirma o auditor fiscal Matheus Viana, chefe da Divisão de Fiscalização para
Erradicação do Trabalho Escravo do MTE.
A avaliação é a mesma do procurador
Italvar Medina, vice-coordenador da Conaete, área do MPT responsável pelo
combate a esse crime.
"A operação atingiu números
expressivos de equipes e resgates, sendo a maior já realizada na história do
país para combate ao trabalho escravo e tráfico de pessoas, o que demonstra a
importância da integração entre os órgãos públicos", avalia.
MULHER
DE 90 ANOS FOI RESGATADA DO TRABALHO ESCRAVO DOMÉSTICO NO RIO
Uma trabalhadora doméstica negra de 90
anos foi encontrada pela Operação Resgate 3, no último dia 22, em uma
residência no Grajaú, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Ela trabalhava para a mesma família há
50 anos e, como doméstica, há 16.
Entre suas tarefas estava cuidar de uma
mulher de mais de 100 anos, mãe de sua empregadora.
Ela dormia em um sofá.
Ela foi a pessoa mais idosa resgatada
desde que o Brasil implementou o seu sistema de combate à escravidão
contemporânea em 1995.
Com isso, tirou o triste título de outra
mulher de 84 anos, resgatada de condições análogas às de escravo após 72 anos
trabalhando como empregada doméstica para três gerações de uma mesma família
também no Rio em maio do ano passado.
Nesse período, cuidou da casa e de seus
moradores, todos os dias, sem receber salário, segundo a fiscalização.
Essa foi a mais longa duração de
exploração de uma pessoa em escravidão contemporânea desde 1995.
O Rio Grande do Sul contou com a maior
quantidade de resgatadas do trabalho escravo doméstico (3), seguido por
Pernambuco e Rio de Janeiro (2, cada), e Minas Gerais, Bahia e São Paulo (1,
cada).
No total, as verbas rescisória das trabalhadoras empregadas domésticas
resgatadas totalizam quase R$ 1,8 milhão.
Além das seis crianças e adolescentes
encontrados em situação análoga à de escravo, outros 26 foram retirados do
trabalho infantil. As principais atividades em que estavam eram o cultivo de
alho (6 vítimas), seguido de atividades realizadas após a colheita (5) e criação
de bovinos para corte (4).
Dois dos resgatados são pessoas com
deficiência, uma em balsas (MA), outra em buritis (RO).
A estimativa de verbas rescisórias e
direitos já pagos pelos empregadores é de R$ 2,8 milhões frente a um valor
total devido de R$ 6,1 milhões.
Os trabalhadores também vão receber três
parcelas de um salário mínimo do seguro-desemprego especial para resgatados da
escravidão, criado em 2003.
Estima-se que 1.325 autos de infração
tenham sido aplicados pelos auditores fiscais do trabalho.
Soma-se a isso mais de R$ 2 milhões em
indenizações por danos morais já pagas, negociadas pelo Ministério Público do
Trabalho e pela Defensoria Pública da União.
O valor deve aumentar porque outros acordos
estão sendo negociados.
A operação tem o objetivo de fiscalizar
o cumprimento da proteção ao trabalho, permitir a coleta de provas para
responsabilizar, na esfera criminal, os envolvidos na exploração dos
trabalhadores e assegurar a reparação dos danos individuais e coletivos
causados aos resgatados.
(Leonardo Sakamoto - Uol)
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