*Moro Defende Lava Jato
O ministro Dias Toffoli, do Supremo
Tribunal Federal (STF), invalidou nesta quarta-feira (06/09) provas obtidas no
acordo de leniência firmado pela empreiteira Odebrecht, e que envolvem uma
série de políticos e partidos.
No despacho, Toffoli também afirma que a
prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2018, pode ter sido "um
dos maiores erros judiciários da história do país".
As informações foram reveladas pela
colunista do g1 Daniela Lima, no
programa Conexão GloboNews.
O ministro tomou a decisão com base nas
descobertas da Operação Spoofing, da Polícia Federal.
A operação revelou mensagens entre o
então juiz Sergio Moro e integrantes do Ministério Público, supostamente combinando
procedimentos em processos da Lava Jato, que investigaram a Odebrecht.
O material, que se tornou de
conhecimento público em 2019, foi obtido pelo hacker Walter Delgatti Neto, um
dos alvos da Spoofing.
Toffoli ainda invalidou elementos de
provas contidos nos "sistemas de
propina" que foram apresentados pela Odebrecht .
Os "sistemas de propina", em tese, mostrariam a dinâmica do
pagamento ilegal a políticos.
O acordo de leniência entre o Ministério
Público Federal (MPF) e a Odebrecht foi firmado em dezembro de 2016 e
homologado, no âmbito da Lava Jato, em maio de 2017, por Moro.
A empresa se comprometeu a revelar
condutas ilícitas e a cessar as práticas.
O termo também previa o pagamento de
multa de R$ 3,82 bilhões às autoridades do Brasil, Estados Unidos e Suíça, ao
longo de 23 anos.
PROVAS
ÀS 'MARGENS DA LEI'
Toffoli tomou as medidas após uma ação
apresentada pela defesa do presidente Lula, que solicitou acesso integral aos
documentos do acordo de leniência.
Na decisão, o ministro afirma que tudo
indica que as provas foram obtidas "às
margens" da lei, não somente as referentes ao presidente Lula, mas em
todos os casos que se basearam nesses elementos.
Ainda segundo Toffoli, as causas para
anular essas provas são "objetivas"
e não se restringem ao que foi apresentado no recurso de Lula.
"Razão pela qual o reconhecimento
da referida imprestabilidade [anulação das provas] deve ser estendido a todos
os feitos [processos] que tenham se utilizado de tais elementos, seja na esfera
criminal, seja na esfera eleitoral, seja em processos envolvendo ato de
improbidade administrativa, seja, ainda, na esfera cível", afirma.
O magistrado diz que, apesar da
invalidação de provas, cabe aos juízes responsáveis pelos processos abertos com
base no acordo de leniência da Odebrecht decidir sobre eventuais arquivamentos.
"Nos feitos [processos], seja de
que natureza for, em que houve a utilização destes elementos de prova, o exame
a respeito do contágio de outras provas, bem como sobre a necessidade de se
arquivar inquéritos ou ações judiciais deverá ser realizado pelo juízo natural",
declara o ministro do STF.
PRISÃO
DE LULA FOI 'ARMAÇÃO', DIZ TOFFOLI
No documento, de 135 páginas, o ministro
do Supremo afirma que, diante de "situações
estarrecedoras" verificadas nos processos e de outras decisões já
tomadas pelo STF, a prisão do presidente Lula "até poder-se-ia chamar de um dos
maiores erros judiciários da história do país".
"Na verdade, foi muito pior.
Tratou-se de uma armação fruto de um projeto de poder de determinados agentes
públicos em seu objetivo de conquista do Estado por meios aparentemente legais,
mas com métodos e ações contra [a lei]", afirmou Toffoli em um
trecho da decisão.
Ele também diz que a prisão do petista
"foi o verdadeiro ovo da serpente dos ataques à democracia e às
instituições que já se prenunciavam em ações e vozes desses agentes contra as
instituições e ao próprio STF".
Lula foi preso em abril de 2018 e
permaneceu detido por um 1 ano e 7 meses em Curitiba.
O processo foi baseado na delação
premiada de executivos da OAS.
O presidente foi solto em 2019, depois
que STF decidiu derrubar a possibilidade de prisão de condenados em segunda
instância.
Em abril de 2021, o Supremo anulou todas as condenações impostas a
Lula pela Justiça Federal do Paraná no âmbito da Lava Jato.
Toffoli afirma na decisão que, apesar
das possíveis irregularidades cometidas pelos responsáveis pela Lava Jato, não
é possível dizer que a operação não tenha investigado "ilícitos
verdadeiramente cometidos, apurados e sancionados".
"Mas, ao fim e ao cabo, o que esta
[ação] deixa evidente é que se utilizou um cover-up [disfarce] de combate à
corrupção com o intuito de levar um líder político às grades, com parcialidade
e, em conluio, forjando-se 'provas'", declara o ministro do
Supremo.
MORO
DIZ QUE 'AÇÃO FOI LEGAL'
Em uma rede social, após a divulgação da
decisão de Toffoli pela imprensa, o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro defendeu a
operação e afirmou que "toda" a ação tomada "foi legal".
"A corrupção nos governos do PT
foi real, criminosos confessaram e mais de R$ 6 bilhões foram recuperados para
a Petrobras. Esse foi o trabalho da Lava Jato, dentro da lei, com as decisões
confirmadas durante anos pelos Tribunais Superiores", escreveu o
ex-juiz.
"Os brasileiros viram, apoiaram e
conhecem a verdade. Respeitamos as instituições e toda a nossa ação foi legal",
completou o, agora, senador pelo União Brasil.
O ministro da Justiça, Flavio Dino,
afirmou que Lula foi julgado "indevidamente".
"A decisão do ministro Toffoli tem
dois alcances: um de natureza jurídica, reafirmando a inocência do presidente
Lula, indevidamente julgado sem o devido processo legal; o outro é de natureza
política, na medida em que fica o registro dos absurdos perpetrados em uma
página trevosa da nossa História", afirmou Dino.
O procurador Deltan Dallagnol, que
coordenou a força-tarefa da Lava Jato, criticou a decisão de Toffoli.
Dallagnol lembrou que a empresa devolveu
aos cofres públicos R$ 3 bilhões, como forma de reparar irregularidades.
"O maior erro da história do país
não foi a condenação do Lula, mas a leniência do STF com a corrupção de Lula e
de mais de 400 políticos delatados pela Odebrecht. A anulação da condenação e
do acordo fazem a corrupção compensar no Brasil. E, se tudo foi inventado, de
onde veio o dinheiro devolvido aos cofres públicos? E, com a anulação do
acordo, os 3 bilhões devolvidos ao povo serão agora entregues novamente aos
corruptos? Os ladrões comemoram enquanto quem fez a lei valer é perseguido",
escreveu Dallagnol.
(Do g1)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.