Amputações sem anestesia estão sendo feitas em crianças na Faixa de Gaza e, ainda que tenham apenas cinco anos de idade, elas falam que preferem morrer.
A constatação faz parte do discurso
feito ao Conselho de Segurança pelo secretário-geral da entidade Médicos Sem
Fronteiras, Christopher Lockyear.
Nele, o representante da organização
médica apresentou um raio-x dramático da situação de saúde de Gaza e alertou,
em especial, para a situação das crianças.
Segundo ele, a dimensão da destruição e
das mortes de civis levaram as equipes médicas a acrescentar uma nova sigla ao
seu vocabulário: WCNSF.
Ou
seja, Criança Ferida, Sem Família Sobrevivente (em inglês).
"As crianças que sobrevivem a essa
guerra não apenas carregam as feridas visíveis dos ferimentos traumáticos, mas
também as invisíveis - as do deslocamento repetido, do medo constante e de
testemunhar membros da família literalmente desmembrados diante de seus olhos",
disse o representante médico.
"Essas lesões psicológicas levaram
crianças de apenas cinco anos de idade a nos dizer que prefeririam morrer",
constatou.
Os dados oficiais do Ministério da Saúde
palestino apontam que dois terços dos cerca de 30 mil mortos em Gaza desde 7 de
outubro são compostos por mulheres e crianças.
Não há como verificar de forma
independente o número, mas tanto a OMS como a ONU usam esses dados em seus
informes oficiais.
GAZES
USADAS EM MAIS DE UM PACIENTE E PARTOS EM TENDAS DE PLÁSTICO...
Para a entidade, o que se vê em Gaza
hoje é:
“Uma guerra de punição coletiva, uma guerra
sem regras, uma guerra a todo custo”, Christopher Lockyear, chefe da
MSF.
Ele conta com, nesta semana, enquanto uma
família se sentava à mesa da cozinha em uma casa que abrigava a equipe da
entidade Médicos Sem Fronteiras e suas famílias em Khan Younis, um projétil de
tanque de 120 mm explodiu através das paredes, provocando um incêndio, matando
duas pessoas e queimando gravemente outras seis.
Cinco dos seis feridos são mulheres e
crianças.
De acordo com Lockyear, a destruição
promovida pelos ataques israelenses contra hospitais têm impedido que parte do
trabalho de socorro às vítimas seja realizado.
O governo de Benjamin Netanyahu
justifica as ações, alegando que esses centros de saúde abrigam membros do
Hamas.
As vítimas, porém, são civil, destaca a
ONU.
"Nossos pacientes têm lesões
catastróficas, amputações, membros esmagados e queimaduras graves. Eles
precisam de cuidados sofisticados. Precisam de reabilitação longa e intensiva",
disse o representante da Médicos Sem Fronteiras.
"Os médicos não podem tratar esses
ferimentos em um campo de batalha ou nas cinzas de hospitais destruídos",
disse. "Não há leitos hospitalares suficientes, medicamentos suficientes e
suprimentos suficientes", alertou.
"Os cirurgiões não tiveram outra
opção a não ser realizar amputações sem anestesia em crianças",
afirmou aos demais membros do Conselho de Segurança.
"Nossos cirurgiões estão ficando
sem a gaze básica para impedir que seus pacientes sangrem. Eles a usam uma vez,
espremem o sangue, lavam-na, esterilizam-na e a reutilizam para o próximo
paciente", explica.
(Por Uol - Jamil Chade, colunista do
UOL, em Genebra)
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