A relatora especial das Nações Unidas (ONU) para os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados, Francesca Albanese, publicou relatório nesta segunda-feira (25/03) afirmando que existem “motivos razoáveis” para sustentar que Israel promove um genocídio na Faixa de Gaza.
Israel rebate dizendo que o informe é
uma “inversão obscena da realidade” e diz que respeita o direito humanitário
internacional.
Essa é a primeira vez que um informe
ligado à ONU acusa Israel de genocídio.
A relatora, que tem um mandato
independente, foi nomeada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.
“A natureza esmagadora e a escala do ataque
de Israel à Gaza e as condições de vida destrutivas que [Israel] infligiu
revelam uma intenção de destruir fisicamente os palestinos, enquanto grupo”,
diz o informe da relatora.
O governo de Tel Aviv enfrenta ainda a
acusação de genocídio na Corte Internacional de Justiça (CIJ), resultado de
denúncia apresentada pela África do Sul e apoiada por diversos países, entre os
quais, o Brasil.
A relatora para os direitos humanos nos
territórios palestinos, Francesca Albanese, pede ainda que os países promovam
um embargo de armas contra Israel, além da adoção de outras medidas econômicas
e políticas que garantam o cessar-fogo imediato e duradouro, incluindo sanções
contra o governo de Tel Aviv.
GENOCÍDIO
É PROCESSO
A especialista da ONU argumenta que o
genocídio pode ser caracterizado como “a
negação do direito de existência de um povo e a subsequente tentativa ou
sucesso na sua aniquilação” e que esse crime é “‘um composto de diferentes atos de perseguição ou destruição’, que vão
desde a eliminação física até a ‘forçada desintegração’ das instituições
políticas e sociais de um povo, da cultura, da língua, sentimentos e religião.
O genocídio é um processo, não um ato”.
De acordo com Albanese, os atos de
Israel em Gaza podem ser caracterizados como genocídio porque o país teria
cometido, ao menos, três atos proibidos pela Convenção para a Prevenção e a
Repressão do Crime de Genocídio, de 1948.
Seriam eles: o assassinato de membros do
grupo; os sérios danos corporais ou mentais aos membros do grupo, além de
infligir “deliberadamente ao grupo
condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física, no todo ou
em parte”.
A relatora especial da ONU para
Palestina ainda cita o bloqueio à ajuda humanitária na região como outro
elemento para caracterizar o crime de genocídio.
“O
bloqueio reforçado de Israel a Gaza causou a morte por fome, incluindo dez
crianças por dia, ao impedir o acesso a abastecimentos vitais.”
De acordo com o informe, Israel tem
buscado ocultar sua conduta em Gaza sustentando que está respeitando o Direito
Humanitário Internacional (DHI). “Israel invocou estrategicamente o quadro do
DHI como ‘camuflagem humanitária’ para legitimar a sua violência genocida em
Gaza”, completou.
Albanesa defende que não há respeito ao
DHI porque “Israel tratou, de fato, todo
um grupo protegido e a sua infraestrutura de sustentação da vida como
‘terrorista’ ou ‘apoiador do terrorismo’, transformando assim tudo e todos num
alvo”.
Outro elemento usado pela relatora
especial para caracterizar a ação de Israel em Gaza como genocídio são as
declarações de autoridades de Tel Aviv que, segundo ela, estariam tentando
desumanizar os palestinos.
“A
desumanização pode ser entendida como fundamental para o processo de genocídio”,
destacou.
CONFLITO
COLONIAL
A relatora da ONU Francesca Albanese
sustentou ainda em seu informe que a ação de Israel em Gaza é mais uma fase de
um longo processo de apagamento colonial.
“Durante
mais de sete décadas, este processo sufocou o povo palestino como grupo –
demograficamente, culturalmente, econômica e politicamente –, procurando
deslocá-lo, expropriar e controlar as suas terras e recursos.”
“As
ações de Israel foram impulsionadas por uma lógica genocida integrante do seu
projeto colonial de colonização na Palestina, sinalizando uma tragédia
anunciada”, completou Albanese, acrescentando que “deslocar e apagar a presença
árabe indígena tem sido uma parte inevitável do processo de formação de Israel
como um ‘Estado Judeu’”.
ISRAEL
O ministério das Relações Exteriores de
Israel divulgou nota em que condena o relatório de Albanese que, de acordo com
Tel Aviv, “continua a sua campanha de
deslegitimação da própria criação e existência do Estado de Israel”.
“Fica
claro no relatório que a Relatora Especial começou com a conclusão de que
Israel comete genocídio e depois tentou provar as suas opiniões distorcidas e
politicamente motivadas com argumentos e justificações fracas”, destacou o
comunicado.
“O
relatório é, portanto, uma inversão obscena da realidade, onde um suposto
perito pode fazer acusações ultrajantes, quanto mais extremas, melhor”,
completou.
Ainda de acordo com o comunicado, o
relatório “é uma tentativa de esvaziar a
palavra genocídio da sua força única e do seu significado especial” e que a
guerra em Gaza “é contra o Hamas e não
contra civis palestinos”.
O comunicado de Israel finaliza dizendo
que o parecer “é mais uma mancha no seu
mandato tendencioso e só traz ainda mais descrédito ao Conselho dos Direitos
Humanos”.
(Por Agência Brasil)
Foto: Mohammed Saber/Agência EFER
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