A Justiça do RJ mandou soltar Érika Souza, a sobrinha do Tio Paulo, o idoso levado já morto para pegar um empréstimo em um banco, mas a mulher continuará respondendo pelos crimes de tentativa de estelionato e vilipêndio de cadáver.
A sobrinha estava presa desde o dia 16.
Em decisão nesta quinta-feira (02/-5), a
juíza Luciana Mocco, titular da 2ª Vara Criminal de Bangu, recebeu a denúncia
do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), o que tornou Érika ré.
A magistrada, porém, atendeu a um pedido
da defesa da sobrinha e revogou a prisão preventiva.
Assim, Érika responderá ao processo em
liberdade.
A sobrinha também passou a ser
investigada, em um outro inquérito, por homicídio culposo – quando não há a
intenção de matar.
Mas esse processo está em andamento na
Polícia Civil, que ainda decidirá se indicia Érika por esse crime.
MEDIDAS
CAUTELARES
A juíza determinou que Érika cumpra as
seguintes medidas cautelares — do contrário, a mulher pode voltar à cadeia:
Comparecimento mensal ao cartório do
juízo, para informar e justificar suas atividades ou eventual alteração de
endereço.
Neste caso, o novo endereço deverá ser
informado antes da mudança, sob pena de decretação de nova prisão;
Se houver necessidade de internação para
tratamento da saúde mental, um laudo médico deverá ser apresentado;
Proibição de ausentar-se da Comarca por
prazo superior a 7 dias, salvo mediante expressa autorização do juízo.
Na justificativa para soltá-la, Luciana
disse que Érika é “acusada primária, com
residência fixa, não possuindo, a princípio, periculosidade a prejudicar a
instrução criminal ou colocar a ordem pública em risco”.
“Entendo
que as especulações [da grande repercussão do caso em rede nacional e
internacional] não encontram amparo na prova dos autos a justificar a medida
excepcional do cárcere, ressaltando-se, por oportuno, que o clamor público não
é requisito previsto em lei para decretação ou manutenção da prisão”, destacou.
A
DENÚNCIA
Na terça-feira (30/04), o MPRJ tinha
oferecido a denúncia por esses 2 crimes à Justiça.
A promotora de Justiça Débora Martins
Moreira destaca que Érika demonstrou "desprezo e desrespeito" pelo
idoso ao levá-lo ao banco morto para realizar o saque o dinheiro.
"A DENUNCIADA, consciente e voluntariamente, vilipendiou o cadáver de
Paulo Roberto Braga, seu tio e de quem era cuidadora, ao levá-lo à referida
agência bancária e lá ter permanecido, mesmo após a sua morte, para fins de
realizar o saque da ordem de pagamento supramencionada, demonstrando, assim,
total desprezo e desrespeito para com o mesmo", diz um trecho do
documento.
Além da denúncia, o MPRJ se manifestou
contrário a um pedido da defesa de Érika de liberdade provisória.
Na conclusão do relatório enviado ao
MPRJ, o delegado que investiga o caso diz ter certeza de que Érika sabia que
Paulo Roberto Braga já estava morto dentro do banco.
"Não há dúvidas que Érika sabia da morte de Paulo, mas, como era a
última chance de retirar o dinheiro do empréstimo, entrou com o cadáver no
banco, simulou por vários minutos que ele estava vivo, chegando a fingir dar
água, pegou a caneta e segurou com sua mão junto a mão do cadáver de Paulo,
contudo, como os funcionários do banco não dispersaram a atenção, não pôde fazer
a assinatura", escreveu Fabio Luiz Souza, da 34ª DP (Bangu).
Já a investigação por homicídio culposo
ocorre por grave "omissão de socorro".
CONVERSA
COM O CADÁVER
Em 16 de abril, Érika levou o tio, em
uma cadeira de rodas e completamente imóvel e de olhos fechados, para tentar sacar
um empréstimo em um banco em Bangu, na Zona Oeste do Rio.
Um vídeo feito pelas atendentes do banco
mostra que a todo tempo Érika tentava manter a cabeça do homem levantada,
usando a mão, e conversava com o suposto parente – que, claro, não responde.
“Tio, tá ouvindo? O senhor precisa assinar.
Se o senhor não assinar, não tem como. Eu não posso assinar pelo senhor, o que
eu posso fazer eu faço”, afirma a mulher.
Ela mostra o documento e afirma que ele
tinha que assinar da forma que estava ali e diz: “O senhor segura a cadeira forte
para caramba aí. Ele não segurou a porta ali agora?”, pergunta às atendentes,
que dizem não ter visto.
“Assina para não me dar mais dor de cabeça,
eu não aguento mais”, completa.
NOVAS
PROVAS
O delegado citou novas provas para
incluir o crime de homicídio.
Segundo ele, dois depoimentos revelam que Érika
tentou colocar uma conta própria para receber o dinheiro do tio e que chegou a
ir até a agência sem ele para sacar – mesmo sabendo que ele precisaria assinar.
Só depois de tentar ir sozinha, em vão,
Érika decidiu levar o tio à agência.
Na conclusão do relatório do inquérito,
o delegado diz que, pelas imagens fica "claro" que Paulo "já
era cadáver quando Érika o levou à agência e, principalmente, que ela sabia de
tal fato, pois ele está com a cabeça caída e sem qualquer movimento, porém, logo
antes de entrar ela o segura pelo pescoço para que fique com a cabeça erguida,
simulando uma pessoa viva".
"Dentro da agência ela continua
com tal simulação enquanto aguarda atendimento, pois permanece segurando seu
pescoço e quando ela solta, a cabeça “despenca” para trás, o que é impossível
acontecer com uma pessoa viva, voltando ela a segurar novamente e fingir que
conversa com, porém solta mais uma vez o pescoço e a cabeça cai novamente,
voltando ela a segurar", descreve o delegado.
Não há conclusão sobre o momento em que
Paulo morreu porque o laudo é inconclusivo.
Para o delegado, "se de
fato Paulo chegou com vida ao shopping, sua morte foi logo após, pois em
imagens do próprio estabelecimento é possível ver sua cabeça caída para trás
com a boca aberta, assim como no trajeto até o banco, tudo presenciado por
testemunhas que estavam no local e tiveram contato visual com Paulo sempre
imóvel, com a cabeça caída, imagem idêntica a vista dentro do banco".
O delegado conclui: "não
há dúvidas que Érika sabia da morte de Paulo, mas, como era a última chance de
retirar o dinheiro do empréstimo, entrou com o cadáver no banco, simulou por
vários minutos que ele estava vivo, chegando a fingir dar água, pegou a caneta
e segurou com sua mão junto a mão do cadáver de Paulo, contudo, como os
funcionários do banco não dispersaram a atenção, não pôde fazer a assinatura",
escreveu.
(Do g1)
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