*Esquema multimilionário de venda de
armas ilegais por PMs, CACs e empresários para facções envolvia laranjas;
entenda...
A PF da Bahia deflagrou a "Operação
Fogo Amigo" nesta terça-feira (21/05), e prendeu 18 pessoas, entre elas,
10 policiais militares.
Os policiais suspeitos apreendiam os
armamentos durante abordagens e não os apresentavam nas delegacias.
"Armas, que teoricamente eram para
serem apreendidas e levadas para alguma delegacia, não eram apresentadas. Essas
armas eram vendidas para facções criminosas", explicou o delegado
regional da Polícia Judiciária da PF-BA, Rodrigo Motta.
Já as armas novas vinham de laranjas.
O
esquema funcionava da seguinte forma:
*Os
investigados pegavam uma pessoa sem instrução, geralmente da zona rural, sem
antecedentes criminais, para tirar o Certificado de Registro do Exército (CR)
ou posse rural na Polícia Federal;
*Pagavam
todo o trâmite para o laranja tirar o CR;
*Após
os trâmites, o laranja registrava um BO de furto e dava a arma como extraviada,
para que não fosse conectado ao comprador final;
*Caso
não fosse feito esse procedimento, o número de série era raspado ou refeito.
Ainda de acordo com a polícia, após um
dos investigados participar de uma delação premiada, ele foi preso suspeito de
participar do esquema.
SARGENTO
MOVIMENTOU MAIS DE 2 MILHÕES DE REAIS
Um dos investigados pela Polícia Federal
foi um sargento da PM de Petrolina/PE, que movimentou, segundo o Coaf,
aproximadamente R$ 2,1 milhões em um período de pouco mais de seis meses entre
os anos de 2021 e 2023.
O valor foi considerado pelas
investigações como totalmente incompatível com os seus rendimentos de sargento
da Polícia Militar.
Ainda de acordo com um dos investigados,
que firmou acordo de delação premiada, o grupo comandado por este sargento da
PM chegava a vender cerca de 20 armas de fogo por mês.
O sargento é apontado como o principal
fornecedor de armas e munições do esquema.
Para um dos compradores, ele enviou 36
caixas com mil munições, o que daria uma média de 2.250 munições por mês.
OPERAÇÃO
'FOGO AMIGO'
Durante a operação, também foi
determinado o sequestro de bens e bloqueio de valores de até R$ 10 milhões dos
investigados, além da suspensão da atividade econômica de três lojas de venda
de material bélico.
Foram cumpridos:
Juazeiro (BA) - quatro mandados de
prisão e seis de busca e apreensão;
Santo Antônio de Jesus(BA) - um mandado
de prisão e outro de busca e apreensão;
Porto Seguro(BA) - um mandado de prisão
e outro de busca e apreensão;
Lauro de Freitas (BA) - dois mandados de
prisão e dois de busca e apreensão;
Salvador (BA) - seis mandados de prisão
e 11 de busca e apreensão;
Petrolina (PE) - três mandados de prisão
e nove de busca e apreensão;
Sanharó (PE) - um mandado de busca e
apreensão;
Arapiraca(AL) - um mandado de prisão e
dois de busca e apreensão.
Um dos seis presos em Salvador foi o
capitão da Polícia Militar da Bahia (PM-BA) Mauro das Neves Grunfeld.
O investigado foi subcomandante da 41ª
Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM), unidade responsável pela
região do Garcia e Federação.
As investigações apontaram que ele
vendia 10 mil munições ilegais por mês.
Na operação desta terça, foram
apreendidas ao menos 20 armas de fogo (a maioria pistolas 9 mm) e milhares de
munições, de todos os tipos, incluindo de fuzil.
Em uma casa em Salvador, a força tarefa
encontrou mais de 400 munições de fuzil.
O dono do arsenal ilegal foi preso em
Petrolina.
Segundo fontes da força tarefa, também
foram apreendidos dezenas de celulares e computadores.
O material vai passar por perícia, para
permitir identificar mais suspeitos de integrar o esquema criminoso de desvio
de armas para facções criminosas.
Participam da operação mais de 300
Policiais Federais, grupos táticos da Polícia Militar da Bahia, Polícia Militar
de Pernambuco, além de promotores do Gaeco da Bahia, Gaeco de Pernambuco e
integrantes do Exército.
A decisão judicial que autorizou a
operação diz que a quebra de sigilo telefônico e telemático dos investigados
apontou de forma clara uma organização criminosa especializada no comércio
ilegal de armas de fogo, munições e itens balísticos, constando que armas de
fogo de uso restrito, como fuzis e espingardas calibre 12 semiautomáticas,
também são negociadas pelo grupo criminoso.
Ainda segundo as investigações, esses
armamentos são utilizados frequentemente em assalto a carros fortes e
instituições financeiras, além de serem empregados em ações denominadas domínio
de cidades, modalidade conhecida como "novo cangaço".
PRÁTICAS
CRIMINOSAS
A decisão judicial aponta uma operação
de compra e venda de munições que utiliza diversos agentes, incluindo
policiais, donos de lojas de armas, vendedores e responsáveis pelo envio do
material ilegal.
Segundo a investigação, uma das práticas
comuns envolve a falsificação de Certificado de Registro de Arma de Fogo
(Crafs) para obtenção de armamento em lojas regulares.
ALGUMAS
DAS FUNÇÕES DOS INVESTIGADOS NA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA:
Um dos investigados, segundo a PF, agia ao lado da companheira e era
responsável pelo envio de armas de fogo para as cidades de Eunápolis (BA),
Porto Seguro (BA) e Juazeiro (BA).
Ele
fez 25 transações via pix, que somaram R$ 77.150,00 e sua companheira
transferiu R$ 108.910,00 em apenas 65 dias para o comerciante de armas;
Relatório do Coaf aponta que um policial militar investigado movimentou R$
2,1 milhões. Quebra de sigilo de dados telemáticos apontam que ele comprou
armas e munições em Salvador;
Outro alvo aparece como fornecedor de munições de fuzil 556 e fuzil
762;
Um proprietário de loja bélica Comercial Taurus de Arapiraca (AL) recebeu cerca de
R$ 700 mil em um ano de um dos investigados pelo tráfico de armas. Segundo a
investigação, a compra de munição ilegal do empresário ocorre há, pelo menos,
três anos;
Já os proprietários da loja Universo Militar de Juazeiro (BA) foram apontados
também como comerciantes ilegais de armas e munições.
Segundo
o colaborador relatou, um vendedor da loja - também alvo da operação - incluía
os dados de diversos Crafs informados pelo contrabandista e dava baixa no
sistema como se a compra fosse feita pelo possuidor do registro, quando na
verdade era adquirido pela organização criminosa.
Os
proprietários, segundo a PF, orientavam sobre como driblar a fiscalização do
Exército.
A decisão judicial explica ainda que o
colaborador da PF informou que "desejava
adquirir armamento ilegal para distribuição em facção criminosa, se dirigia aos
estabelecimentos e adquiria, livremente, o artefato que era inserido pelo
funcionário na loja em nome de comprador fictício, alguns deles, conforme
comprovado, sequer possuíam armas registradas em seu nome".
SUSPENSÃO
DE LOJAS
Foi definida a suspensão das atividades
econômicas das lojas Sport Tiro e Comercial Taurus.
Segundo a decisão, os estabelecimentos
"por meio de prepostos e sócios,
facilitaram sobremaneira a circulação de armas e munições ilegais com inserção
de dados fictícios referentes aos respectivos compradores".
Os investigados responderão pelos crimes
de organização criminosa, comercialização ilegal de armas e munições, lavagem
de dinheiro e falsidade ideológica, com penas somadas que podem chegar a 35
anos de reclusão.
A operação foi denominada "Fogo
Amigo".
De acordo com a PF, o nome faz alusão ao
fato de que os policiais integrantes da organização criminosa vendem armas e
munições de forma ilegal para criminosos faccionados e que acabam sendo
utilizadas contra os próprios órgãos de segurança pública.
(Por g1 BA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.