*Ellenn Salviano já era formada em
direito quando decidiu cursar medicina.
*Agora ela concilia atuação em quatro
serviços de saúde pública e a criação dos filhos de 6, 7 e 18 anos.
Formada em medicina em 2015 em uma
universidade privada do Rio Grande do Norte, Ellenn Salviano, de 41 anos, é
natural de São Miguel, na região do Alto Oeste potiguar, mas mora em Natal.
Também formada em direito, casada, mãe de três filhos, a profissional começou a
atuar em unidades básicas de saúde e depois foi convidada para o hospital
municipal de Santa Cruz, onde é plantonista às segundas-feiras há quase 8 anos.
A profissional ficou conhecida por um
improviso que salvou a vida de um bebê de 3 meses, no hospital do município da
região Agreste.
Na última segunda-feira (10/06), junto à sua equipe, ela
decidiu usar uma tampa de bolo como um capacete de oxigênio, até a unidade de
saúde receber um equipamento emprestado e a criança ser transferida para o
Hospital Varela Santiago, em Natal.
Durante a pandemia da Covid-19, Ellenn
fez parte da equipe da UTI do hospital municipal.
Além de Santa Cruz, ela
trabalha no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Metropolitano às
terças-feiras e no Hospital de Pirangi, em Parnamirim, nas sextas.
A profissional também faz plantões em
outras unidades, como a sala vermelha de uma Unidade de Pronto-Atendimento
(UPA) de Parnamirim e em um hospital privado de Natal, sem dia fixo.
Nos hospitais e no Samu, ela atende
principalmente pacientes adultos, mas também acaba recebendo crianças e bebês
em situações graves.
Ellenn revela que está em uma transição
de carreira, se especializando em cardiologia clínica.
Para a médica, o maior desafio
profissional é trabalhar no SUS.
"Trabalhar em serviços particulares é fácil,
porque eu tenho tudo à mão, tudo o que eu preciso. Falta também, porque falta
em todo canto, mas no SUS eu tenho que sair de casa todo dia pensando em como
eu posso me reinventar. E eu tenho uma equipe que eu digo que é minha equipe
cão, porque o inferno não escolhe. Vem tudo", afirma.
"Minha equipe, quando estou com
eles, eu sei que a gente não precisa escolher o paciente. O problema vem e eu
sei que a gente vai dar um jeito, com oxigênio ou sem oxigênio, e eu sei que
ali a gente vai se reinventar para o paciente ter a assistência que precisa",
diz.
TRABALHO
E FAMÍLIACasada há 22 anos com um advogado, a
profissional tem três filhos, com idades de 6, 7 e 18 anos.
O mais velho pretende seguir os passos
da mãe na medicina.
"Eu me formei tarde no curso de
medicina. Minha primeira formação é direito e só após 3 anos de formada,
consegui passar em medicina e minha vida mudou", relata a médica.
Como passa muitos dias fora de casa, a
médica afirma que seus maiores momentos de lazer são as viagens em família.
"Minha família é incrível,
compreende minhas ausências sem tantas cobranças. E meu esposo, além de grande
pai, é um parceiro fantástico. Assim fica fácil sair e dar o meu melhor",
pontua.
RESPONSABILIDADE
DE CUIDAREllenn Salviano diz que tomou a atitude
de usar uma embalagem de bolo como um capacete de oxigênio para salvar a vida
de um bebê de três meses em Santa Cruz, no Agreste potiguar.
"Ali estou nos meus braços com o
amor de alguém. Quando saio de casa e deixo meus três filhos, assumo uma
responsabilidade muito grande, que é cuidar do outro. Então eu não podia olhar
para aquela mãe e dizer não podemos", disse a profissional ao g1.
"É muito fácil chegar e dizer:
mãezinha, o desfecho foi ruim. Me desculpe, porque não somos um hospital
materno-infantil, porque não temos recursos para o seu filho e o SUS não tem
vaga", complementa.
O paciente deu entrada no hospital
municipal de Santa Cruz no sábado (08) com quadro de desconforto respiratório
grave, congestão nasal, febre, rinorreia, vômitos e diarreia.
Na manhã da segunda-feira (10) a médica
entrou no plantão da unidade e percebeu que a criança estava em um estado muito
grave.
De acordo com Ellenn, a criança já
estava com cianose, uma condição médica que afeta o paciente com má oxigenação
do sangue, e apresentava manchas roxas na pele.
"Se ele passasse mais tempo assim,
o risco era de uma parada cardíaca. O próximo passo seria intubar, o que seria
muito difícil para o paciente. Iria reduzir a chance de sobrevida dele",
revelou.
A criança passou cerca de quatro horas
com o equipamento, até a chegada de materiais emprestados pelo Hospital
Universitário Ana Bezerra, em Santa Cruz.
De acordo com a médica, o tempo foi
suficiente para ajudar na recuperação da criança, que retomou a oxigenação a
níveis "quase normais".
IMPROVISOSegundo o médico do Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que atuou na transferência de Santa Cruz
para Natal, o improviso feito com a embalagem de bolo melhorou as condições do
bebê.
"São alguns improvisos que a gente
precisa fazer. Realmente ajudou bastante o rapazinho a voltar a respirar bem, a
ter uma boa penetração de oxigênio no pulmão. Foi fundamental para ajudar na
recuperação dele", disse o médico Francisco Júnior.
(Por Igor Jácome, g1 RN)
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