Textos históricos que registraram o começo do cristianismo foram levados em massa de regiões no Oriente Médio e Egito para a Europa no fim do século 19 e começo do século 20.
Parte desses documentos escritos em
línguas que não são mais faladas, como o latim e o grego antigo, ainda não foi
analisada, inclusive um papiro com cerca de 1,6 mil anos que, recentemente, foi
identificado como o texto mais antigo sobre a infância de Jesus Cristo.
Um dos pesquisadores que reconheceu o
texto é o brasileiro Gabriel Nocchi Macedo, que é professor da Universidade de
Liège, na Bélgica.
Nocchi Macedo é de Porto Alegre, mas se
mudou para a Bélgica há 20 anos, onde estudou letras clássicas e se
especializou em papirologia, a ciência que estuda papiros antigos.
Hoje, o gaúcho dá aulas sobre isso.
“O essencial do trabalho é consultar papiros
em diferentes coleções e museus”, afirma.
Foi dessa forma que ele e um colega
descobriram o texto sobre a infância de Jesus.
“Por acidente, quase, por sorte, estávamos
olhando fotos dos papiros da Universidade de Hamburgo, que foi digitalizada, e
encontramos o papiro, lemos o texto (que está escrito em grego antigo) e
identificamos como uma passagem sobre a vida de Jesus”, ele conta.
O mérito de Nocchi Macedo e o colega,
Lajos Berkes, é ter dado atenção a um documento que é um "patinho
feio", segundo o próprio pesquisador: "É um papiro pequeno, não é bonito
e está mutilado. Registros assim podem trazer muita informação e contribuir com
nosso conhecimento do passado. Todas as fontes, mesmo que ‘menores’ e ‘feias’,
podem ser importantes”, diz ele.
Esse documento não recebeu atenção de
pesquisadores durante cerca de 100 anos.
Para Macedo Nocchi, o texto passou
batido porque parecia ser uma informação do cotidiano, e não um documento
histórico.
Os dois foram a Hamburgo para consultar
o papiro.
A coleção de papiros da Antiguidade da
Universidade de Hamburgo, que o pesquisador brasileiro descreve como
considerável, foi formada no começo do século 20.
JESUS
DÁ VIDA A PÁSSAROS DE BARROO papiro traz um trecho do Evangelho de
Tomé, um texto apócrifo sobre a infância de Jesus — não se trata de uma
história reconhecida pela Igreja Católica ou outras instituições cristãs.
É uma espécie de “fanfic” sobre Jesus
entre 3 e 5 anos, já fazendo milagres, escrita no século 4 ou 5, segundo Macedo
Nocchi.
O fragmento encontrado descreve o início
da ‘vivificação dos pardais’, um episódio da infância de Jesus que é
considerado o “segundo milagre” no evangelho apócrifo de Tomé: Jesus brinca em
um riacho e molda doze pardais com o barro da lama.
Quando seu pai, José, o repreende e
pergunta por que está fazendo isso no sábado, Jesus bate palmas e dá vida às
figuras de barro.
O importante do papiro é que se reforça
o entendimento de que os textos do começo do cristianismo eram escritos em
grego.
“O grego era a língua da cultura. Esse
evangelho da infância é conhecido em 9 línguas da antiguidade, mas o original
era o grego, e esse papiro é o documento mais antigo que registra esse texto,
prova isso”, afirma o pesquisador brasileiro.
Nocchi Macedo afirma que essa página não
pertencia a um livro e, além disso, a letra não é das mais bonitas, o que
indica que o documento pode ter sido por um estudante, e não por um
profissional (chamados de copistas, pessoas dedicadas às cópias de textos e
documentos).
(Por Felipe Gutierrez, g1)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.