O desembargador Luis Cesar de Paula Espíndola, que afirmou que "as mulheres estão loucas atrás de homens", tem 69 anos e ingressou na magistratura como juiz substituto em 1989, segundo dados do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).
Como juiz, ele passou pelas comarcas da
Lapa, Rio Negro, São Mateus do Sul, Santo Antônio do Sudoeste, Barracão e
Capanema.
Desde 1988 atua na comarca de Curitiba.
Ele se tornou desembargador em 2013,
após uma promoção pelo critério de antiguidade.
Atualmente, preside a 12ª Câmara Cível
do TJ-PR, responsável por julgar casos de Direito de Família, união estável e
homoafetiva.
Espíndola fez os comentários na última
quarta-feira (03/07) durante uma sessão do colegiado que decidia sobre uma
medida protetiva proibindo um professor de se aproximar de uma aluna de 12 anos
que se sentiu assediada.
As falas foram classificados pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como "discurso potencialmente preconceituoso e misógino em relação à vítima
de assédio".
O órgão abriu uma reclamação disciplinar
contra o desembargador.
Após o episódio vir à tona nesta quinta-feira
(04), o TJ-PR publicou nota pública do desembargador Luis Cesar de Paula
Espindola.
Leia a íntegra:
"Esclareço que nunca houve a intenção de menosprezar o comportamento
feminino nas declarações proferidas por mim durante a sessão da 12ª Câmara Cível
do tribunal, afinal, sempre defendi a igualdade entre homens e mulheres, tanto
em minha vida pessoal quanto em minhas decisões. Lamento profundamente o
ocorrido e me solidarizo com todas e todos que se sentiram ofendidos com a
divulgação parcial do vídeo da sessão."
HISTÓRICO
DE CONFUSÃO
A
reclamação disciplinar assinada pelo corregedor nacional de Justiça Luis Felipe
Salomão cita outras seis apurações anteriores do CNJ envolvendo Espíndola.
Uma
delas trata de um possível envolvimento do desembargador em um episódio de
agressão e abuso de autoridade em 2016.
Na
ocasião, o desembargador se envolveu em uma confusão com moradores da Vila
Domitila, no bairro Cabral, em Curitiba, após jogar entulho em um terreno.
Moradores
da região alegaram que Espíndola agrediu fisicamente e verbalmente uma dona de
casa e deu voz de prisão a um policial civil.
No
ano seguinte, o então corregedor nacional de Justiça João Otávio de Noronha determinou
o arquivamento do caso.
Outra
apuração alega que o magistrado dificultou a realização de uma sustentação oral
de um advogado, em um processo que o desembargador deveria ter se declarado
impedido.
O
caso também foi arquivado, desta vez pela então corregedora nacional de Justiça
Maria Thereza de Assis Moura.
O
desembargador foi condenado pelo crime de lesão corporal em contexto de
violência doméstica.
O
Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou Espindola a 7 meses de prisão, mas
a pena não foi aplicada porque o caso prescreveu.
De
acordo com o STJ, a agressão foi cometida contra a irmã do desembargador
durante uma briga, em 2013, na qual a mãe deles também foi agredida.
Um
laudo pericial atestou as lesões corporais nas vítimas.
A
denúncia da agressão foi recebida em 2018.
Na
época, por ordem do STJ, Espíndola foi afastado das funções. Na sessão que o
condenou, a Corte Especial autorizou o retorno imediato de Espíndola às funções
de desembargador.
No caso analisado pelo colegiado na
última quarta, a derrubada da medida protetiva em debate envolveu uma aluna de
12 anos que sentiu assediada por professor de uma escola pública do interior do
estado
O julgamento levou em conta mensagens
com elogios enviadas no meio da aula para o celular da menina.
Além disso, o professor foi investigado
e absolvido na área criminal por suspeita de ter importunado a criança.
Por quatro votos a um, o tribunal
decidiu manter a medida protetiva que proíbe o docente de se aproximar da
vítima.
O voto contrário foi do presidente.
Ao justificar o voto, Espindola disse
que não concorda com a atitude, mas que não há provas contra o professor.
"Muito embora essa conduta, né,
para alguns não seja própria e eu até concordo que para mim não seria próprio,
mas hoje em dia, a relação aluno e professor, sabe, a gente vê, não só... Lá é
uma comarcazinha pequena, do interiorzão, todo mundo se conhece, sabe? É
diferente de uma assim... de uma Curitiba da vida, sabe, ou de uma cidade maior",
disse Espindola.
Logo após o desembargador proclamar o
resultado, a desembargadora Ivanise Trates Martins, que não fazia parte do
quórum, se manifestou:
"Nós, mulheres, sofremos muito
assédio desde criança, na adolescência, na fase adulta, e há um comportamento
masculino lamentavelmente na sociedade que reforça esse machismo estrutural, ou
que hoje a gente chama de machismo estrutural, que é poder olhar, piscar,
mexer, dizer que é bonitinha, 'uma sua roupa tá com você, tá?' Puxa esse
jeitinho de fazer de conta que tá elogiando, mas que, nós mulheres, percebemos
a lascívia quando os homens nos tratam dessa forma. E talvez os homens não
saibam ou não tenham ideia do que uma mulher sente quando são tratadas com uma
lascívia disfarçada. Nós sabemos, uma piscadinha, um olhar, quem sabe numa sala
de aula, ou em qualquer outro lugar, extremamente constrangedor, extremamente
constrangedor", disse Ivanise.
Em seguida, o presidente da 12ª Câmara
Cível voltou a se pronunciar:
"Vem com o processo um discurso
feminista desatualizado, porque se essa vossa excelência sair na rua hoje em
dia o que quem tá assediando, quem está correndo atrás de homens são as
mulheres, porque não tem homem, sabe? Esse mercado é um mercado que está bem
diferente. Hoje em dia sabe o que o que existe, essa é a realidade as mulheres
estão loucas atrás dos homens, porque são muito poucos sabe? Esse é o
mercado... É só sair à noite, eu não saio muito à noite, mas eu eu conheço,
tenho funcionárias, tenho sabe... tenho contato com o mundo. Nossa, a mulherada
tá louca atrás do homem sabe? Louca para levar um elogio, uma piscada, sabe?
Uma cantada educada, porque elas é que estão cantando, elas que estão
assediando, porque não tem homem, essa é a nossa realidade hoje em dia, não só
aqui no Brasil sabe? Isso é óbvio, né? Hoje em dia os cachorrinhos estão sendo
os companheiros das mulheres, vai no parque só tem mulher com cachorrinho,
louca para encontrar um companheiro para conversar e eventualmente para
namorar. Agora a coisa chegou num ponto hoje em dia entendeu? Que as mulheres é
que estão assediando, sabe? Não sei se vossa excelência sabe, professores de
faculdade, sabe, são assediados. É ou não é, doutora? Quando sai da faculdade,
ele deixa um monte de 'viúva', a gente vê, cansado de ver isso e sabe disso
sabe? Então, tudo é muito, é muito, é muito pessoal, esse é um discurso que eu
acho que está superado, sabe, as mulheres ninguém tá correndo atrás de mulher
porque tá sobrando".
Durante a tarde, o TJ-PR retirou do ar o
vídeo da sessão em que o desembargador fez o pronunciamento sobre as mulheres.
Conforme a Corte, o material foi retirado para preservar as partes envolvidas,
considerando que o processo tramita em segredo de justiça.
(g1 PR)
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