*“Dava palestras sobre violência contra a
mulher e infelizmente foi vítima”, diz amiga
A delegada da Polícia Civil da Bahia, Patrícia
Neves Jackes Aires, de 39 anos, foi assassinada pelo namorado Tancredo Neves Feliciano
de Arruda.
Ela foi encontrada morta no domingo
(11/08) dentro do próprio carro, em uma área de mata, no município de São
Sebastião do Passé, na Região Metropolitana de Salvador.
Tancredo Neves foi preso em flagrante.
Ele confessou o crime e disse a polícia
que usou o cinto de segurança do carro para enforcar a vítima.
O corpo da delegada foi sepultado na
manhã desta terça (13) em Recife/PE.
Veja
a matéria do g1 BA sobre o caso:
Sob bastante comoção e pedidos por
justiça, parentes e amigos participaram do enterro da delegada pernambucana
Patrícia Neves Jackes Aires, de 39 anos, que foi assassinada pelo namorado e
teve o corpo encontrado dentro do próprio carro em uma área de mata na Bahia.
O sepultamento aconteceu na manhã desta
terça-feira no Bairro do Sancho, na Zona Oeste do Recife.
O velório e o enterro de Patrícia
aconteceram no Cemitério Parque das Flores, reunindo também policiais militares
e civis.
À TV
Globo, Jeisiane Florentino, amiga da delegada, disse que a morte dela será
referência na luta de violência contra às mulheres.
"Vai ter um proposito, essa morte
dela, para representar muitos casos que ficam impunes. Patrícia era uma
querida, era forte, muitas vezes eu me questiono por que isso aconteceu. [...]
Ela lutava e dava palestras sobre violência contra a mulher e, infelizmente,
foi vítima", afirmou Jeisiane.
Márcia Pascoal, uma amiga de infância de
Patrícia, contou que a delegada será lembrada pela alegria que tinha.
"Ela era maravilhosa, muito
alegre. E é esta lembrança que a gente quer ter de Patrícia: a alegria e o
sorriso. Foi isso que eu guardei. Nossa última foto é com um sorriso
maravilhoso", disse.
O suspeito de matar a delegada Patrícia
Neves Jackes Aires admitiu que inventou para a polícia a versão que os dois
teriam sido sequestrados.
Tancredo Neves falou que "girou
o cinto de segurança no pescoço dela" para se defender de supostas
agressões durante uma discussão.
A declaração foi dada em depoimento
nesta segunda-feira (12/08), na 37ª Delegacia Territorial da Bahia, em São
Sebastião do Passe, na Região Metropolitana de Salvador.
Após a audiência de custódia, ele teve a
prisão em flagrante convertida em preventiva.
Na primeira versão, Tancredo relatou que
por volta de meia-noite de domingo, os dois teriam saído da cidade onde a
vítima morava, Santo Antônio de Jesus, no recôncavo, com destino à Salvador.
Após a Praça de Pedágio de Amélia
Rodrigues, na BR-324, o casal teria sido abordado por três indivíduos em uma
motocicleta. Tancredo chegou a dizer que os dois foram vítimas de um sequestro
e obrigados a fazer transferência de dinheiro.
Ele foi supostamente liberado às margens
da rodovia e os criminosos seguiram no carro com Patrícia.
Em novo depoimento, Neves detalhou outra
versão do ocorrido e disse estar contando a verdade após passar a noite pensativo
e se arrepender do que fez.
O suspeito contou que os dois saíram
para beber em Santo Antônio de Jesus, e Patrícia ficou alcoolizada, segundo
ele.
Na saída do estabelecimento, a delegada
teria decidido viajar para Salvador a fim de comprar roupas.
O homem relatou que durante a viagem
eles pararam para urinar na BR-101, no trecho de Sapeaçu, no recôncavo.
Ainda no trajeto, disse para a mulher
que os dois precisavam repensar a relação.
Tancredo detalhou que a mulher "nunca
saía armada e na noite do ocorrido não foi diferente", contudo, já
havia sido ameaçado com arma de fogo, e que ela perdia o controle emocional com
frequência.
A reação de Patrícia, segundo Tancredo,
foi de descontrole e ameaças de morte contra a família e a filha dele.
Nesse momento, ela puxou o volante do
carro, provocando a colisão contra uma árvore.
Depois, Patrícia começou a bater no
companheiro, que usou enrolou o cinto de segurança no pescoço dela.
Segundo ele, o objetivo não era matar a
delegada, e sim fazer com que ela parasse as agressões.
O homem ainda disse que notou que
Patrícia estava desacordada após menos de um minuto, saiu do carro e chamou a
polícia. Conforme Neves, ele não sabia que a mulher estava morta.
Neves ainda disse que casaria com a
chefe de polícia na próxima quarta-feira (14), apenas três dias após ela ter
sido assassinada.
O homem contou que conheceu Patrícia em
novembro de 2023, em um restaurante de Santo Antônio de Jesus.
A delegada atuava como plantonista na
unidade policial da cidade.
O relacionamento, segundo ele, teve
início há cerca de quatro meses.
O homem reconheceu que houve agressões
verbais ao longo desse período, mas negou que tenha ocorrido qualquer episódio
de violência física ou sexual.
Apesar disso, ele chegou a ser preso em
flagrante maio deste ano por agressão contra Patrícia.
Tancredo afirmou que ela caiu sozinha,
argumentou ter provado inocência no caso e ressaltou que a vítima retirou a
medida protetiva de urgência que pediu contra ele.
O homem foi solto por decisão judicial e
o casal se reconciliou.
QUEIXAS
DE OUTRAS MULHERES E EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINAAntes de se relacionar com a delegada,
Neves já colecionava denúncias e processos apresentados por outras mulheres com
as quais se relacionou.
Em todos os casos, ele nega as
agressões.
Questionado sobre o que explicaria o
fato de "tantas mulheres terem registrado fatos" contra ele, o
homem alegou apenas que "xinga muito".
O investigado também é alvo de um
inquérito por exercício ilegal da Medicina.
Neves reconheceu a existência do
processo, contudo, nunca foi intimado, conforme ele.
O homem se apresenta como médico,
formado no Paraguai, mas disse que não exerce a profissão.
Os indiciamentos por exercício ilegal da
medicina e falsidade ideológica aconteceram depois que a Polícia Civil de
Euclides da Cunha concluiu as investigações em 2022.
Os documentos foram remetidos ao Ministério
Público da Bahia (MP-BA).
Por meio de nota, o Conselho Regional de
Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) informou que não há nenhum médico
registrado com o nome de Tancredo Neves Lacerda Feliciano de Arruda.
QUEM
ERA PATRÍCIA JACKES
Patrícia Neves Jackes Aires, de 39 anos,
nasceu em Recife, capital pernambucana, e tinha um filho.
Bacharel em Direito e especialista em
Direito Penal e Processo Penal, a delegada tomou posse em 2016, sendo designada
em seguida para a delegacia de Barra, no oeste da Bahia.
Depois, comandou as delegacias de
Maragogipe e São Felipe, antes de ter sido lotada em Santo Antônio de Jesus,
onde atuava como plantonista.
Patrícia Jackes tinha forte atuação na
prevenção e enfrentamento às violências de gênero.
Em 2021, ela passou pelo Núcleo
Especializado de Atendimento à Mulher (NEAM), da 4ª Coordenadoria de Polícia,
no município de Santo Antônio de Jesus (BA).
Antes de se formar em Direito, Patrícia
se graduou em Licenciatura Plena em Letras.
Ela trabalhou por 12 anos como
professora de língua portuguesa e língua inglesa.
A Secretária das Mulheres do Estado
disse que "a delegada Patrícia
tinha uma carreira promissora, inclusive com forte atuação na prevenção e
enfrentamento às violências de gênero".
O corpo de Patrícia Jackes foi velado na
manhã desta segunda-feira (12), na Câmara de Vereadores de Santo Antônio de
Jesus.
O sepultamento ocorre nesta terça (13),
em Recife.
O
CRIME...
A delegada da Polícia Civil, Patrícia
Neves Jackes Aires, de 39 anos, foi encontrada morta no domingo (11/08) dentro
do próprio carro, em uma área de mata, no município de São Sebastião do Passé,
na Região Metropolitana de Salvador.
O companheiro dela, identificado como
Tancredo Neves, foi preso em flagrante e é o principal suspeito do crime.
Ele tinha sido preso em maio por
agressão à vítima e investigado por exercício ilegal da medicina
Conforme a Polícia Civil, o corpo da
vítima, que nasceu em Recife, foi encontrado no banco do carona.
(g1 BA)
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