Seis pessoas que estavam na fila do
transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ)
receberam órgãos contaminados pelo HIV de 2 doadores e agora testaram positivo
para o vírus.
O incidente é inédito na história do
serviço.
A notícia foi dada pela BandNews FM
nesta sexta-feira (11/10).
À TV Globo e ao g1, a Secretaria
confirmou as informações e que investiga o caso.
O incidente também é apurado por
Ministério da Saúde, Ministério Público do RJ (MPRJ), Polícia Civil e Conselho
Regional de Medicina (Cremerj).
“Esta é uma situação sem precedentes. O
serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho
de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”,
declarou a SES-RJ.
Segundo o governo do estado, o erro foi
em 2 exames do PCS Lab Saleme.
A unidade privada fica em Nova Iguaçu,
na Baixada Fluminense, e foi contratada pela SES-RJ em dezembro do ano passado,
em um processo de licitação emergencial no valor de “11 milhões de reais”, para
fazer a sorologia de órgãos doados.
A Coordenadoria Estadual de Transplantes
e a Vigilância Sanitária Estadual interditaram o laboratório, e o caso é
investigado pela Delegacia do Consumidor (Decon) da Polícia Civil.
A 5ª Promotoria de Justiça de Tutela
Coletiva da Saúde da Capital, do MPRJ, instaurou um inquérito civil para
investigar as irregularidades noticiadas no programa de transplantes.
"O MPRJ ressalta que está à
disposição para ouvir as famílias afetadas, receber denúncias de quem se sentir
lesado e prestar atendimento individualizado às partes envolvidas",
diz a nota.
A Anvisa descobriu ainda que o PCS não
tinha kits para realização dos exames de sangue nem apresentou documentos
comprovando a compra dos itens, o que levantou a suspeita de que os testes
podem não ter sido feitos e que os resultados tenham sido forjados.
O laboratório disse que abriu
sindicância interna para apurar o caso e que em todos os exames realizados no
período de prestação de serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado foram
utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela
Anvisa (veja a íntegra da nota ao fim desta reportagem).
TRANSPLANTE
EM JANEIRO
A situação foi descoberta no último dia
10 de setembro, quando um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas
neurológicos e teve o resultado para HIV positivo; ele não tinha o vírus antes.
Esse paciente recebeu um coração no fim
de janeiro.
A partir daí, as autoridades refizeram
todo o processo e chegaram a 2 exames feitos pelo PCS Lab Saleme.
A primeira coleta foi feita no dia 23 de
janeiro deste ano — foram doados os rins, o fígado, o coração e a córnea, e
todos, segundo o laboratório, deram não reagentes para HIV.
Sempre que um órgão é doado, uma amostra
é guardada.
A SES-RJ, então, fez uma contraprova do
material e identificou o HIV.
Em paralelo, a pasta rastreou os demais
receptores e confirmou que as pessoas que receberam 1 rim cada também deram
positivo para o HIV.
A que recebeu a córnea, que não é tão
vascularizada, deu negativo.
A que recebeu o fígado morreu pouco depois do
transplante, mas o quadro dela já era grave, e a morte não teria relação com o
HIV.
No dia 3 de outubro, mais um
transplantado também apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para
HIV.
Essa pessoa também não tinha o vírus
antes da cirurgia.
Cruzando os dados, chegaram a outro exame errado, o de uma
doadora no dia 25 de maio deste ano.
RETESTE
A secretária estadual de Saúde, Cláudia
Mello, disse que a 1ª ação tomada foi de transferir todos os exames de
sorologia dos doadores desse laboratório para o Hemorio, uma unidade de saúde
estadual.
“Então, a partir do dia 13 de setembro, toda
a doação é passada direto das doações para o Hemorio”, disse Cláudia.
O departamento vai retestar o material
armazenado de 286 doadores.
O
QUE DIZ SECRETARIA DE SAÚDE
“A Secretaria de Estado de Saúde (SES)
considera o caso inadmissível.
Uma
comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e,
imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos
transplantados.
O
laboratório privado, contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender
o programa de transplantes, teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso
e foi interditado cautelarmente.
Com isso, os exames passaram a ser realizados
pelo Hemorio.
A
Secretaria está realizando um rastreio com a reavaliação de todas as amostras
de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da
contratação do laboratório.
Uma
sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis.
Por
necessidade de preservação das identidades dos doadores e transplantados, bem
como do encaminhamento da sindicância, não serão divulgados detalhes das
circunstâncias.
Esta
é uma situação sem precedentes.
O
serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho
de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”.
NOTA
DO LABORATÓRIO PCS LAB
"O laboratório PCS Lab abriu sindicância interna para apurar as
responsabilidades do caso envolvendo diagnósticos de HIV em pacientes
transplantados ocorridos no Estado do Rio de Janeiro.
Trata-se de um episódio
sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969.
O
laboratório informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos
os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre
1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou
serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado.
Nesses
procedimentos foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo
Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O
PCS Lab dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e
seus familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais,
sanitárias e de classe que investigam o caso."
(Por g1)
Foto: Rafael Nascimento/g1
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