A fim de lucrar, o PCS Lab Saleme
deliberadamente afrouxou o controle dos testes em órgãos para transplantes.
A afirmação é do delegado Felipe Curi,
secretário estadual da Polícia Civil do RJ, em coletiva sobre a Operação Verum.
Deflagrada nesta segunda-feira (14/10),
a ação tentou prender 4 investigados no caso dos transplantes de órgãos
infectados pelo HIV.
Dois foram presos e dois eram procurados
até o início da tarde.
“Houve uma falha de controle operacional na
qualidade dos testes de HIV, tudo isso para obter lucro”, afirmou o
secretário Felipe Curi.
Segundo as investigações, houve uma
ordem para tornar menos frequente o controle de qualidade dos reagentes usados nas
análises dos órgãos doados.
Seis pessoas que estavam na fila do
transplante da Secretaria Estadual de Saúde do RJ receberam tecidos infectados
pelo vírus de 2 doadores e agora testaram positivo para o HIV.
Os policiais não deram detalhes de como
o afrouxamento supostamente aumentou os lucros do laboratório nem esclareceram
se há a possibilidade de nenhum teste ter sido realizado de fato.
O delegado André Neves, titular da
Delegacia do Consumidor, destacou:
“Houve uma quebra do controle de qualidade,
visando à maximização de lucro e deixando de lado a preservação e a segurança
da saúde dos testes.”
“Os reagentes precisavam ser analisados
sistematicamente, diariamente, e houve uma determinação, que estamos apurando,
para que fosse diminuída essa fiscalização de forma semanal. E essa lacuna,
você flexibiliza e aumenta a chance de ter algum efeito colateral — esse efeito
devastador que nós estamos analisando”, descreveu.
ENTENDA
A FALHA APONTADA PELA POLÍCIA...
Por contrato, o PCS Lab Saleme deveria
analisar o sangue de todo candidato a doador de órgãos.
Para saber se o doador era soropositivo,
uma amostra do sangue é exposta a um reagente.
Mas esse reagente precisa ser submetido
a um teste de qualidade antes de ser usado.
A prova era feita diariamente no Saleme,
mas, segundo as investigações, houve uma ordem para passar a fazer só
semanalmente.
De acordo com a polícia, isso abriu uma
lacuna, que tornou maior a chance de um reagente ineficaz ser usado.
A Operação Verum
Polícia Civil prende sócio de
laboratório responsável pela contaminação de transplantados com HIV
Até a última atualização desta
reportagem, 2 homens tinham sido presos.
Um deles é Walter Vieira, sócio do PCS
Lab Saleme, ginecologista, responsável técnico do laboratório e signatário de
um dos laudos errados.
Vieira ainda é tio do deputado federal
Doutor Luizinho (PP), que foi secretário de Saúde do RJ.
O segundo preso é Ivanilson Fernandes
dos Santos, técnico de laboratório contratado pelo PCS para fazer análise
clínica no material que chegava da Central Estadual de Transplantes.
Outro técnico que tinha a mesma função,
Cleber de Oliveira dos Santos era procurado até a última atualização desta
reportagem.
Outra procurada era Jacqueline Iris
Bacellar de Assis, auxiliar administrativa que trabalhava no PCS Lab Saleme e
cuja assinatura aparece em um dos laudos que atestaram que os doadores de órgãos
não tinham HIV, não foi encontrada pela polícia.
Em entrevista à TV Globo, Jacqueline
reconheceu que as rubricas nos documentos são suas, mas negou qualquer
envolvimento no caso e disse que na hora que assinava os documentos não havia
carimbo, nem registro de profissional, e que foi contratada para trabalhar no
laboratório no setor administrativo.
Os alvos dos mandados de prisão são
investigados por:
Crime contra as relações de consumo;
Associação
criminosa;
Falsidade
ideológica;
Falsificação
de documento particular
Infração
sanitária.
Os advogados que representam o
laboratório PSC Lab Saleme informaram que os sócios da empresa "prestarão todos os esclarecimentos à Justiça".
Na última sexta-feira, Doutor Luizinho
afirmou em nota que lamenta o ocorrido e que deseja que os responsáveis pelos
erros que causaram as infecções sejam punidos.
Agentes da Delegacia do Consumidor
(Decon) também começaram a cumprir nesta segunda-feira 11 mandados de busca e
apreensão, expedidos pelo Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro.
A sede do PCS Lab Saleme, em Nova
Iguaçu, na Baixada Fluminense, teve de ser arrombada pelos policiais.
O local estava interditado desde a
semana passada.
ENTENDA
O ESCÂNDALO...
Seis pessoas que estavam na fila do
transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ)
receberam órgãos infectados pelo HIV de dois doadores e agora testaram positivo
para o vírus.
Segundo o governo do estado, o erro foi
em dois exames do PCS Lab Saleme, que liberou órgãos de dois doadores que
tinham HIV para a fila dos transplantes:
Em janeiro, a família de um homem
autorizou a remoção do coração, dos rins, das córneas e do fígado.
O receptor do coração e as duas pessoas que
receberam um rim cada testaram positivo para o vírus.
Quem ganhou a córnea não foi infectado,
e o destinatário do fígado morreu logo após a cirurgia.
Em maio, parentes de uma mulher doaram o
fígado e os rins, e os três receptores testaram positivo.
A unidade privada foi contratada pela
SES-RJ em dezembro do ano passado, em um processo de licitação via pregão
eletrônico no valor de R$ 11 milhões, para fazer a sorologia de órgãos doados.
O caso veio à tona na última sexta-feira
(11).
OS
INVESTIGADOS...
Walter
Vieira:
é sócio do PCS Lab Saleme, médico ginecologista, responsável técnico do
laboratório e signatário de um dos laudos errados. Vieira também é tio do
deputado federal Doutor Luizinho (PP), que foi secretário de Saúde do RJ no ano
passado.
Foi preso.
Ivanilson
Fernandes dos Santos:
técnico de laboratório contratado pelo PCS para fazer análise clínica no
material que chegava da Central Estadual de Transplantes.
Foi preso.
Jacqueline
Iris Bacellar de Assis: auxiliar administrativa que trabalhava no PCS Lab
Saleme e cuja assinatura aparece em um dos laudos que atestaram que os doadores
de órgãos não tinham HIV.
É procurada pela polícia.
Cleber
de Oliveira dos Santos: assim como Ivanilson, é técnico de laboratório
contratado pelo PCS para fazer análise clínica no material que chegava da
Central Estadual de Transplantes.
É procurado pela polícia.
(Do g1)
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