O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
anunciou nesta quarta-feira (27/11) um pacote que prevê o corte de gastos de “70
bilhões de reais” em 2025 e 2026.
As medidas foram divulgadas em
pronunciamento oficial na cadeia de rádio e televisão.
"Combater a inflação, reduzir o
custo da dívida pública e ter juros mais baixos é parte central de nosso olhar
humanista sobre a economia. O Brasil de hoje não é mais o Brasil que fechava os
olhos para as desigualdades e para as dificuldades da nossa gente. Quem ganha
mais deve contribuir mais, permitindo que possamos investir em áreas que
transformam a vida das pessoas", garantiu o ministro.
O governo discutiu por semanas uma
proposta que visa assegurar a viabilidade nos próximos anos do arcabouço
fiscal, regra que limita o crescimento das despesas.
Parte do pacote exigirá a aprovação do
Congresso Nacional.
Entre as ações, estão uma limitação para
o crescimento do salário mínimo, restrição para o abono salarial e um aumento
nos impostos dos chamados super-ricos.
"A nova medida não trará impacto
fiscal, ou seja, não aumentará os gastos do governo. Porque quem tem renda
superior a R$ 50 mil por mês pagará um pouco mais. Tudo sem excessos e
respeitando padrões internacionais consagrados", garantiu o
ministro.
Uma coletiva de imprensa com o
detalhamento das ações do governo será realizada nesta quinta-feira (28).
Ministro Fernando Haddad diz que governo
concluiu lista de medidas de corte de gastos
No pronunciamento, Haddad também lembrou
o contexto global e o impacto dele na economia brasileira.
"Sabemos que persistem grandes
desafios. Diante do cenário externo, com conflitos armados e guerras
comerciais, precisamos cuidar ainda mais da nossa casa", disse.
"É por isso que estamos adotando
as medidas necessárias para proteger a nossa economia. Com isso, garantiremos
estabilidade e eficiência e asseguraremos que os avanços conquistados sejam
protegidos e ampliados".
Haddad também citou o peso das emendas
parlamentares na economia.
"Juntos com o Supremo Tribunal
Federal e o Congresso Nacional, aprimoramos as regras do orçamento. O montante
global das emendas parlamentares crescerá abaixo do limite das regras fiscais".
"Além disso, 50% das emendas das
comissões do Congresso passarão a ir obrigatoriamente para a saúde pública,
reforçando o SUS".
Economistas fazem análises sobre os
avanços e desafios da
VEJA
TODAS AS MEDIDAS ANUNCIADAS:
*Salário
mínimo e abono
As medidas incluem a limitação da
política de valorização do salário mínimo do governo.
Sem dar mais detalhes, o ministro disse
que o mínimo vai continuar crescendo acima da inflação, mas "de
forma sustentável e dentro da nova regra fiscal".
O pacote de corte de gastos também vai
limitar a faixa de quem ter direito ao abono salarial, que é uma espécie de 14º
salário.
Hoje, recebe o abono o trabalhador que ganha até dois salários mínimos
por mês, ou seja, até R$ 2.824.
A proposta é reduzir essa faixa para até
R$ 2.640.
"Esse valor será corrigido pela
inflação nos próximos anos e se tornará permanente quando corresponder a um
salário mínimo e meio", disse Haddad.
O ministro também falou em
"corrigir excessos" do funcionalismo público, limitando os salários ao
teto constitucional.
*Isenção
no Imposto de Renda
Além do pacote de corte, o governo
também propõe isentar do Imposto de Renda quem ganha até “5 mil reais” por mês,
promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Atualmente, o limite de isenção é de R$
2.824 (até dois salários mínimos).
Para compensar a isenção, o governo
pretende aumentar o imposto para os chamados "super-ricos".
A proposta é taxar quem tem renda
superior a “50 mil reais” por mês.
"Tudo sem excessos e respeitando
padrões internacionais consagrados."
As medidas dependem de aprovação pelo
Congresso Nacional e, por isso, foram apresentadas aos presidentes Arthur Lira
(Câmara) e Rodrigo Pacheco (Senado) em reunião nesta quarta-feira (27), com
Haddad e Lula.
O objetivo do governo, com a proposta de
cortes de gastos, é tentar manter de pé o chamado arcabouço fiscal, a norma
para as contas públicas aprovada no ano passado.
Sem uma regra crível para as contas
públicas, explicam economistas, haverá um aumento maior ainda da dívida
pública, com impacto nos juros bancários para consumo e investimentos, e tensão
nos mercados — com pressão sobre o dólar.
O governo também tem a meta de
equilibrar as contas públicas em 2025.
Ou seja, igualar receitas e despesas.
Nos primeiros dois anos de governo, as
medidas anunciadas pela equipe econômica visavam ajustar as contas pelo lado
das receitas, aumentando a arrecadação.
Apenas recentemente o governo passou a
considerar ajustes nas despesas, com o corte de gastos.
*Aposentadoria
e benefícios
No caso dos benefícios sociais, o
ministro afirmou que o governo vai “aperfeiçoar os mecanismos de controle, que
foram desmontados no período anterior”.
O governo planeja combater fraudes no
Benefício de Prestação Continuada (BPC) e Bolsa Família, por exemplo.
Haddad anunciou ainda mudanças na
aposentadoria de militares, que ficaram de fora da última reforma da
Previdência.
“Para as aposentadorias militares, nós vamos
promover mais igualdade, com a instituição de uma idade mínima para a reserva e
a limitação de transferência de pensões, além de outros ajustes. São mudanças
justas e necessárias”, declarou.
As novas regras trazem ainda uma
limitação da concessão de benefícios fiscais (isenção ou redução de impostos
para determinados setores).
“Para garantir os resultados que esperamos,
em caso de déficit primário, ficará proibida a criação, ampliação ou
prorrogação de benefícios tributários”, disse.
Ou seja, caso as contas públicas fechem
no vermelho, o governo não vai poder criar novos benefícios ou ampliar os
existentes.
*Risco
de paralisia da máquina pública
O governo busca conter gastos
obrigatórios, por meio de propostas de mudanças de leis, que ainda tem de ser
avaliados pelo Congresso Nacional, para tentar manter operante o arcabouço
fiscal, a norma para as contas públicas.
A regra geral do arcabouço prevê que o
aumento de algumas despesas do governo esteja atrelado ao crescimento das
receitas.
Além disso, a alta das despesas não pode ser maior do que 2,5% por
ano acima da inflação.
Entretanto, alguns gastos têm regras
específicas (distintas das do arcabouço) e, por isso, têm apresentado
crescimento anual acima dos 2,5% limite para as despesas totais do governo.
São eles:
*Aposentadorias
dos trabalhadores (vinculadas ao salário mínimo)
*Despesas
em saúde e educação
*Emendas
parlamentares (indexadas à arrecadação)
A lógica é que, sem o corte de gastos, o
espaço para as despesas livres dos ministérios, conhecidos como "gastos
discricionários", terminará nos próximos anos.
Entre esses gastos livres há políticas
públicas importantes, como bolsas de estudo, fiscalização ambiental e do
trabalho, assim como o farmácia popular.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
já admitiu que, no ritmo atual, gastos livres dos ministérios tendem a sumir:
'Vamos ter de fazer um debate sobre isso'.
Por essa lógica, não adianta elevar a
arrecadação, como vem fazendo a equipe econômica, para equilibrar as contas.
É obrigatório, necessariamente, cortar
gastos obrigatórios.
A previsão do TCU é que, se nada for
feito, o espaço para essas políticas importantes para a população acabará nos
próximos anos, paralisando a máquina pública.
Com o arcabouço fiscal em risco, podendo
ser abandonado, não haveria mais uma regra que controlasse as contas públicas,
o que, por sua vez, elevaria mais a dívida do setor público, que já é alta para
o padrão dos países emergentes.
Isso aumentaria ainda mais os juros
futuros, que servem de base para os empréstimos às famílias, para o consumo, e
ao setor privado — e também pressionaria para cima a taxa de câmbio (dólar).
Essa dúvida sobre as contas públicas,
que está sendo chamada pelo mercado financeiro de "risco fiscal", já
está cobrando seu preço, com alta do dólar e dos juros futuros.
O próprio Banco Central cita o aumento
de gastos em seus comunicados, explicando que isso também pressiona a inflação.
Segundo a instituição, a "percepção
mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a
sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem
tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos [dólar, juros futuros e
bolsa de valores] e as expectativas [de inflação]".
(Por g1)
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