O ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Augusto Nardes mandou que representantes dos ministérios da Educação e da Fazenda, além da CEF (Caixa Econômica Federal), prestem explicações sobre os pagamentos feitos a estudantes no programa Pé-de-Meia após reportagens do UOL revelarem ilegalidades.
O UOL revelou em outubro que o governo
federal já desembolsou neste ano R$ 3 bilhões no Pé-de-Meia – que paga mesada a
estudantes do ensino médio contra evasão escolar.
No entanto, os pagamentos – realizados
sem qualquer transparência – não têm autorização do Congresso, o que contraria
regras fiscais.
Os recursos do principal programa de
educação do governo Lula (PT) são operados fora do Orçamento da União – o que
fere a Constituição, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a própria legislação
que criou o Pé-de-Meia.
Nardes autorizou as oitivas “considerando
a gravidade da matéria, caso os indícios sejam confirmados, em face do
potencial descumprimento às normas de finanças públicas”, conforme diz
despacho assinado por ele nesta quarta-feira (06/11).
Além do MEC (Ministério da Educação),
deverão se explicar por escrito ao TCU: a Caixa, o Fipem (Fundo da Poupança de
Incentivo à Permanência e Conclusão Escolar para Estudantes do Ensino Médio)
-fundo privado da Caixa para onde os recursos do Pé-de-Meia foram transferidos
-e dois órgãos do Ministério da Fazenda (o Tesouro Nacional e a Secretaria de
Orçamento Federal).
Nos últimos dias, os ministros Camilo
Santana (Educação), Rui Costa (Casa Civil) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da
União), além da secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, procuraram
o ministro do TCU para evitar que ele abra a investigação ou conceda decisão
suspendendo os pagamentos aos alunos.
Procurados, eles não se manifestaram.
O despacho de Nardes informa que, com os
esclarecimentos em mãos, ele vai decidir se manda suspender provisoriamente os
pagamentos do Pé-de-Meia, conforme pediu o subprocurador do Ministério Público
no TCU Lucas Rocha Furtado.
Em análise preliminar, a área técnica do
TCU já constatou que o governo fez uma “manobra esdrúxula” para operar o
programa em um “orçamento paralelo” e recomendou abertura de investigação.
A lista de estudantes beneficiados e as
estatísticas com valores não foram revelados pelo MEC.
Após as reportagens, a Caixa tirou do ar
os gastos do programa.
O MEC afirma que o Congresso aprovou, no
orçamento de 2023, repasse de R$ 6,1 bilhões para o fundo privado onde está
aplicado o dinheiro do Pé-de-Meia.
No entanto, não solicitou autorização,
em 2024, para sacar os recursos desse fundo e repassar aos estudantes (leia
mais baixo).
O
QUE O TCU QUER SABER:
Os
critérios
para escolha dos estudantes beneficiados;
A
lista
dos estudantes beneficiados e as ordens de pagamento a cada um deles, com datas
e valores;
Onde
a lista está
divulgada (a relação não é divulgada e o UOL insiste no pedido ao MEC por meio
da Lei da Acesso à Informação);
Valor
da dotação
orçamentária para executar o Pé-de-Meia neste ano;
Fluxo
detalhado
da cadeia de decisão e operação do programa -da escolha dos estudantes,
passando pelos “depósitos” e “saques” no Fipem até o pagamento na conta
bancária dos estudantes;
Todos
os documentos e
comunicações, como emails e ofícios trocados entre o Ministério da Educação,
Caixa e o Fipem para operar o programa;
Parecer
da Secretaria
de Orçamento Federal sobre a forma de contabilizar os gastos do Pé-de-Meia no
orçamento;
Regras e legislação da injeção de
dinheiro do orçamento da União no Fipem;
Pareceres
da Fazenda
para Medida Provisória que, inicialmente, foi usada para tentar criar o
Pé-de-Meia. Depois, o programa foi criado por meio de lei;
Pareceres
da Fazenda
sobre os vetos à lei que criou o Pé-de-Meia.
O
QUE DIZ O MEC
A pasta comandada por Camilo Santana tem
alegado que solicitou autorização do Congresso para depositar recursos no fundo
privado em 2023.
No entanto, a pasta também precisaria
ter pedido aval da Casa para sacar os recursos do fundo que pagaram os alunos.
Sobre a falta de transparência do
programa, o MEC informou em respostas a pedidos de Lei de Acesso à Informação
que cumpre a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).
(Folhapress)
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