A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirma que um documento encontrado na sala do ex-presidente Jair Bolsonaro, na sede do Partido Liberal (PL), consiste no discurso que o ex-presidente faria logo após o golpe de Estado tramado para impedir a transição de governo.
O mesmo documento foi encontrado no
celular do ex-ajudante de Ordens da Presidência da República tenente-coronel
Mauro Cid.
“O discurso encontrado na sala de
Jair Messias Bolsonaro reforça o domínio que este possuía sobre as ações da
organização criminosa, especialmente sobre qual seria o desfecho dos planos
traçados – a sua permanência autoritária no poder, mediante o uso da força”,
justifica o procurador-geral, Paulo Gonet.
O texto do suposto discurso pós-golpe
justifica o decreto de Estado de Sítio e o da Garantia da Lei e da Ordem (GLO),
que seriam editados por Bolsonaro.
O documento, atribuído pela PGR ao
ex-presidente, defende que algumas decisões judiciais devem ser consideradas
ilegítimas.
“Devemos considerar que a legalidade
nem sempre é suficiente: por vezes a norma jurídica ou a decisão judicial são
legais, mas ilegítimas por se revelarem injustas na prática. Isso ocorre, quase
sempre, em razão da falta de constitucionalidade, notadamente pela ausência de
zelo à moralidade institucional na conformação com o ato praticado”,
diz o texto encontrado na sala de Bolsonaro.
Na noite desta terça-feira (18/02), a PGR
denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas ao Supremo Tribunal
Federal (STF) pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado
Democrático de Direito e organização criminosa.
A acusação também envolve outros
militares, entre eles, o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa Braga Netto e
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
DISCURSO
No discurso de quatro páginas, o
ex-presidente argumenta que o “Princípio da Moralidade Institucional” teria
sido violado por decisões de tribunais superiores.
O texto também defende que o ministro
Alexandre de Moraes não poderia presidir o Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
além de criticar decisões do TSE.
“Todas estas supostas normas e
decisões são ilegítimas, ainda que sejam aparentemente legais e/ou supostamente
constitucionais”, diz o documento, acrescentando que tais decisões, como a que
rejeitou ação do PL contra o resultado das urnas, “colocam em evidência a
necessidade de restauração da segurança jurídica e de defesa às liberdades em
nosso país”.
O suposto discurso pós-golpe cita decisões
do STF e conclui pela necessidade de um estado de sítio.
“Diante de todo o exposto e para
assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil,
jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em
disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro Estado de Sítio;
e, como ato contínuo, decreto Operação de Garantia da Lei e da Ordem”.
OPERAÇÃO 142
Outro documento apreendido na sede do PL,
na mesa de assessor do general Walter Braga Netto, também denunciado pela PGR
por tentativa de golpe de Estado, revela medidas que a suposta organização
criminosa tomaria para consolidar o poder.
Com o título de Operação 142, em
referência ao artigo 142 da Constituição, que disciplina o uso das Forças
Armadas para garantia da lei e da ordem, o documento previa uma série de
medidas para o golpe de Estado.
“O plano também previa ações
claramente voltadas à restrição de exercício das instituições democráticas,
como ‘Anulação das eleições’, ‘Prorrogação dos mandatos’, ‘Substituição de todo
TSE’ e ‘Preparação de novas eleições’”, sustenta a PGR.
No tópico “Linhas de esforço”, o arquivo
propunha ações de interrupção do processo de transição de governo; mobilização
de juristas e formadores de opinião; e enquadramento jurídico do decreto 142.
Segundo Gonet, o documento deixa “evidente
o escopo do grupo de depor o governo legitimamente eleito e permanecer no poder
de forma autoritária”.
“Esse objetivo chegou a ser
declarado de forma expressa ao final do documento: ‘Lula não sobe a rampa’”,
acrescentou o PGR.
DEFESAS
Em nota, a defesa do ex-presidente
informou ter ficado “estarrecida e indignada com a denúncia” apresentada nesta
terça-feira.
Assinada pelo advogado Paulo Cunha Bueno,
a nota afirma que Bolsonaro “jamais compactuou com qualquer movimento que
visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que
o pavimentam”.
A defesa de Braga Netto afirmou que a
denúncia é “fantasiosa” e “não apaga a sua história ilibada de mais de 40
anos de serviços ao Exército brasileiro”.
“O general Braga Betto está preso há
mais de 60 dias e ainda não teve amplo acesso aos autos, encontra-se preso em
razão de uma delação premiada que não lhe foi permitido conhecer e contraditar”,
diz a defesa.
Na quarta-feira (19), o ministro Alexandre
de Moraes levantou o sigilo da delação de Mauro Cid.
Os advogados do general, José Luís
Oliveira Lima e Rodrigo Dall’Acqua, dizem ainda confiar que Braga Netto será
inocentado.
“A defesa confia na Corte, que o STF
irá colocar essa malfadada investigação nos trilhos”, afirmaram.
(Lucas Pordeus León/Fernando Fraga –
Agência Brasil)
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