Elizabeth Teixeira, histórica líder
camponesa paraibana, celebra 100 anos de vida nesta quinta-feira (13/02) e será
homenageada no Festival da Memória Camponesa.
O evento será realizado de hoje (13) até o
próximo sábado (15) no município de Sapé.
Ela foi companheira de João Pedro
Teixeira, símbolo de resistência da luta no campo e fundador da Primeira Liga
Camponesa da Paraíba, organização criada nos anos 1950 para defender os
direitos dos trabalhadores do campo.
O diretor de cinema Eduardo Coutinho, já
falecido, um dos mais renomados do Brasil e conhecido por filmes como Edifício
Master e Jogo de Cena, mostrou a história da família Teixeira, no filme Cabra Marcado
Para Morrer, de 1984.
João Pedro era jurado de morte por
latifundiários da região, situação que se consumou em Sapé (PB), em 1962, e o
diretor de cinema desejava retratar.
Agentes da repressão, contudo, cercaram a
locação e ordenaram a interrupção das filmagens, que foram reiniciadas somente
17 anos depois.
O ano era 1964, quando os militares deram
um golpe de Estado, instalando a ditadura que duraria 21 anos, e o set de
filmagem era a violenta zona rural do Brasil, que até hoje ostenta índices
assustadores, como denuncia anualmente a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Coutinho tinha começado a captar imagens
em Engenho Galileia (PE), município a 50 quilômetros do Recife, dois anos
depois do assassinato de João Pedro Teixeira, quando foi proibido de continuar.
No período da retomada, já em 1981,
Elizabeth vivia com outra identidade, para se proteger, em uma cidade no
interior da Bahia, longe de nove de seus dez filhos.
Cada um deles se escondeu em um canto do
país.
Elizabeth tinha se tornado Marta Maria da Costa e dava aulas.
Descobrir seu paradeiro, inclusive, não
foi tarefa fácil para Coutinho.
A segunda parte do longa-metragem abre
mais o microfone para Elizabeth, que narra como foi passar os dias na
clandestinidade.
Cabra Marcado Para Morrer já figurou em diversas listas
especializadas da área. Em 2015, ocupou o 4º lugar da relação dos 100 filmes
mais importantes da cinematografia nacional, da Associação Brasileira de
Críticos de Cinema (Abraccine).
Eduardo Coutinho também prolongou o
contato com a história dos Teixeira e, em 2013, gravou o média-metragem A Família
de Elizabeth Teixeira.
MEMORIAL NA PARAÍBA
No Memorial das Ligas e Lutas Camponesas,
instalado na casa onde Elizabeth viveu com sua família, na Comunidade de Barra
de Antas, na zona rural de Sapé, será aberta nesta sexta-feira (14) a exposição
“100 faces de Elisabeth Teixeira”.
A entidade também aproveitará a data para
lançar seu acervo digital, com documentos, imagens e registros relacionados ao
tema.
O observatório De Olho nos Ruralistas
realizou, em 2023, outro documentário sobre a líder paraibana, que leva seu
nome.
Diretor e editor-chefe do veículo e
projeto, o jornalista Alceu Luís Castilho ressalta que o primeiro filme de
Eduardo Coutinho sobre João Pedro Teixeira e sua viúva, Elizabeth Teixeira,
revela tanto um momento do país em que a reforma agrária “já era demonizada
pela direita” quanto a influência das Ligas Camponesas em movimentos sociais
que emergiram durante a redemocratização, entre eles, o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que surgiu em 1984, no interior do
Paraná.
“A gente não pode perder de vista
que a história principal das camponesas no Brasil é da invisibilidade. A
própria Elizabeth, em vários momentos da vida dela, ficou invisível, depois do
filme de Eduardo Coutinho. E tantas outras camponesas, centenas, milhares têm
suas histórias similares, inclusive, de violência”, diz o jornalista.
Na avaliação de Castilho, a luta de
Elizabeth e seu marido pelo direito à terra e pela reforma agrária continua
inconclusa.
“A reforma agrária precisa ser
pautada. Ela ainda não foi do modo como deveria, pela mídia, pelos governos”,
afirma.
(Agência Brasil)
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