“Vanderlei, ataque em nós! Ataque! O
prefeito é baleado!”
Essas foram as palavras de desespero
dentro do carro do então prefeito de Taboão da Serra, José Aprígio, do Podemos.
Foram seis tiros de fuzil, e um deles
furou a blindagem do vidro e atingiu o ombro de Aprígio.
Em seguida, os bandidos fugiram e
colocaram fogo no carro para apagar vestígios do crime.
No hospital, o prefeito José Aprígio,
candidato à reeleição, agradeceu aos seus eleitores: “Graças a Deus que
eu tenho o apoio da minha família, de vocês, das igrejas que estão orando por
mim, da minha família, mas dói muito.”
O ataque ocorreu uma semana antes do
segundo turno das eleições municipais do ano passado.
Aprígio havia terminado o primeiro turno
na segunda posição, e a eleição já parecia decidida em favor de seu adversário.
O ataque violento movimentou o cenário
político, mas não impediu a derrota.
Três dias após o atentado, um suspeito foi
preso: Gilmar de Jesus Santos.
Ele fez um acordo de colaboração com as
autoridades e revelou a trama de um falso atentado.
Gilmar confessou que estava dirigindo o
carro junto com Odair Junior de Santana, e que os dois atiraram contra o carro
do prefeito.
“Por que isso não foi feito quando o
prefeito estava em extrema vulnerabilidade, andando na rua, vendo as obras,
saindo do restaurante ou mesmo dentro do restaurante sem nenhum tipo de
proteção? Nós percebemos que aquilo ‘ó, está muito esquisito, isso daqui’”,
disse o delegado Hélio Bressan.
Segundo Gilmar, o combinado era não
atingir o prefeito.
“Eu propus atirar no capô do carro,
na frente do carro, para não atingir ninguém. Ele falou que na frente não
servia, só lateral. Ele ia estar parado dando a lateral para mim, para eu poder
atirar na lateral”, disse.
“Ele queria um susto, mas um susto
que desse mídia para poder passar no Fantástico, para chamar atenção do
eleitor. Era para passar no domingo, antes do segundo turno”, contou
Gilmar.
O Fantástico não exibiu reportagem sobre o
caso na época.
Segundo a investigação, os intermediários
do atentado forjado eram Anderson da Silva Moura, conhecido como Gordão, e
Clovis Reis de Oliveira. Gilmar disse que os dois recebiam informações de um
funcionário da prefeitura muito próximo ao prefeito, alguém que se identificava
como secretário de obras.
A polícia ainda tenta descobrir quem é o
homem que se apresentava como secretário de obras.
O colaborador nunca encontrou José
Aprígio, mas contou à polícia que pessoas próximas ao então prefeito diziam que
ele sabia do plano e concordava com tudo.
Além disso, o atirador contou que recebeu
uma ordem expressa, vinda de dentro da prefeitura: a arma usada no falso
atentado tinha que ser um fuzil.
“Insistiram para fazer do jeito que
eles queriam, para parecer um fato real. Eu informei que o fuzil furava
blindagem. Se fosse só para chamar atenção, era perigoso atingir alguém lá
dentro. Eu não ia fazer isso. Ele falou que não, para eu dar um tempo, que ele
ia pesquisar”, contou Gilmar, que ia receber ‘100 mil reais’ pelo
“serviço”.
“Sim, ao que tudo indica foi um erro
de cálculo grotesco naquele momento em que eles acreditaram que uma blindagem
3A seria capaz de segurar o tiro de fuzil”, disse o promotor Juliano
Atoji.
Com base na delação, a polícia prendeu
essa semana Anderson, o Gordão, mas não conseguiu localizar Clovis Reis de
Oliveira. Além de Gilmar, mais duas pessoas foram denunciadas por tentativa de
homicídio e associação criminosa: Odair Junior de Santana e Jefferson Ferreira
de Sousa, que ajudou na fuga.
Os dois estão foragidos.
A defesa de Anderson da Silva Moura disse
em nota que “o investigado nunca teve qualquer contato com o delator, os
ex-secretários, o ex-prefeito ou qualquer indiciado nesse processo.”
“O prefeito é investigado. Num
primeiro momento ele é vítima, mas obviamente pelos elementos então colhidos
ele foi alvo de busca a fim de verificar se ele estava ciente do atentado que
seria praticado contra ele”, disse o promotor Juliano Atoji.
O advogado do ex-prefeito afirma que José
Aprígio não teve nenhum envolvimento com o atentado.
“Não é crível você pensar que uma
pessoa de 73 anos estaria sujeita a receber um tiro de fuzil achando que talvez
pudéssemos modificar um certame eleitoral. Eu tenho convicção de que ao final
será demonstrado não só para ele, mas para os seus familiares e toda a
sociedade que ele é a vítima nessa história”, disse Alan Mohamed Melo
Hassan, advogado de Aprígio.
Segundo o Ministério Público, além do
ex-prefeito, mais 15 pessoas são investigadas por participar do falso atentado,
entre eles três ex-secretários.
“Sim, tentou-se naquele momento
imputar uma narrativa de que havia sido a mando de organização criminosa e a
mando do grupo político rival, mas ficou claro que partiu de pessoas próximas
ao prefeito”, afirmou o promotor Juliano Atoji.
“Tudo indica que foi uma farsa”,
disse o delegado Hélio Bressan.
(g1)
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