O soldado do exército que filmou um adolescente de 17 anos atirando coquetéis molotov em um homem em situação de rua na Zona Oeste do Rio foi preso nesta sexta-feira (21/02).
Miguel Felipe dos Santos Guimarães da
Silva é um militar do Exército, de 20 anos, e foi levado para a Delegacia da
Criança e Adolescente Vítima (Dcav).
O vídeo do adolescente ateando fogo no
homem em situação de rua foi transmitido em redes sociais.
O adolescente foi apreendido.
No celular de Miguel, assim como tinha
acontecido com o adolescente, a polícia encontrou conteúdo de abuso sexual
infantil.
Miguel vai responder por tentativa de
homicídio triplamente qualificado - mediante pagamento, com emprego de fogo,
recurso que torna impossível a defesa da vítima e motivo torpe.
Também será indiciado por associação
criminosa, apologia ao nazismo, corrupção de menores e armazenamento de
conteúdo de abuso sexual contra crianças.
Segundo a polícia, o grupo do qual o
militar e o adolescente faziam parte fomentava frequentemente crimes de ódio e
apologia ao nazismo de forma explícita na rede social Discord.
COM O CASO FOI DESCOBERTO
A família do adolescente que jogou os
artefatos no homem em situação de rua procurou a delegacia quando o viu nas
imagens, que começaram a circular.
No celular dele, os agentes encontraram
ainda arquivos de abuso sexual infantil.
As cenas do ataque ao homem em situação de
rua foram transmitidas ao vivo pelo Discord, um aplicativo de troca de
mensagens muito popular entre jovens, que também é usado pra prática e
disseminação de conteúdos perturbadores e propagação de ódio.
O vídeo começou a circular pela internet e
chegou até a Dcav, que acionou o Laboratório de Operações Cibernéticas do
Ministério da Justiça.
“A partir da veiculação dessa mídia,
o Laboratório do Ministério da Justiça oficiou o Discord. O Discord retornou
com as informações, dando conta tanto da identificação de uma conta de e-mail,
a partir dali foi feito um trabalho de monitoramento, cruzamento de dados e
inteligência para identificar de quem seria aquele usuário, bem como a
localização do IP”, explica o delegado Cristiano Maia, responsável pelo
caso.
Ao mesmo tempo em que os investigadores
seguiam o rastro digital do vídeo, a avó e a irmã do adolescente perceberam que
era ele quem aparecia na imagem e procuraram a Delegacia do Tanque.
Os policiais apreenderam o adolescente na
manhã desta quinta-feira (20) e ele passou a tarde sendo ouvido na Dcav.
As investigações iniciais indicam que o
ataque foi motivado por um desafio.
“Ele seria movido por um desafio de
se vangloriar perante os outros participantes [da rede social] e que ele teria
recebido um valor em torno de R$ 2 mil por um indivíduo ainda não identificado”,
diz o delegado.
“Nós já identificamos que ele
participa de comunidades ligadas a crimes de ódio. Inclusive, esse fato
delituoso, essa tentativa de homicídio contra esse morador de rua, foi
transmitida ao vivo no Discord, contando com a participação de 141 pessoas",
acrescenta.
“O que a gente tem até agora é que
ele realmente é movido por essa questão de ódio, inclusive em uma das
plataformas, ele utiliza o codinome ‘Eu odeio favela’ e ele participaria de
outras comunidades de cunho neonazista”.
Na casa do adolescente, foram encontradas
toucas, máscaras e luvas que ele teria usado durante o ataque e também uma
faca.
O caso aconteceu na Avenida Geremário
Dantas, no Bairro do Pechincha, a cerca de 500 metros da casa do autor.
O homem em situação de rua atacado é
Ludierley Satyro José, de 46 anos.
Ele teve queimaduras em quase todo corpo e
foi internado no Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca.
O vídeo completo, obtido pela polícia,
mostra os segundos que antecederam o ataque.
É possível ver na gravação a preparação
dos explosivos e os pés de quem está filmando.
O adolescente vai responder por fato
análago a tentativa de homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe e
meio cruel, sem dar chance de defesa à vítima e ainda por armazenamento de
imagens de abuso sexual infantil, que os policiais encontraram no celular dele.
“Lá já estava que ele participou do
Discord, que foi ele que fez, inclusive ele se vangloria disso. Nós
identificamos que havia material pornográfico de natureza infantil no celular,
inclusive ele está sendo autuado pelo crime de armazenamento”, diz o
delegado.
“Poucas vezes eu vi um detido com
tamanha frieza e crueldade porque a vítima, o morador de rua, ela estava
dormindo e [o ataque foi] sem motivo algum, dois indivíduos, apenas pra mostrar
que são capazes de fazer essa barbaridade, fazem", conclui.
Em nota, o Discord afirmou que "tem
uma política de tolerância zero para discurso de ódio e violência, que não têm
espaço em nossa plataforma nem em qualquer lugar da sociedade".
"Assim que tomamos conhecimento
de conteúdos desse tipo, seja por meio de nossas ferramentas de segurança ou
por denúncia de usuários, tomamos as devidas medidas, que podem incluir o
banimento de usuários, o encerramento de servidores e, quando apropriado, o
acionamento das autoridades locais competentes. Neste caso, o Discord reportou
proativamente o incidente às autoridades, baniu as contas envolvidas e encerrou
o servidor. Seguimos cooperando com as autoridades na investigação desse caso",
disse a plataforma.
(g1 RJ)
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