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(2013: Copacabana, Rio - Daniela Dacorso/ Agência O Globo) |
O Papa Francisco, cujo pontificado completa doze anos em março, teve o Brasil como primeiro destino internacional após ascender ao Trono de São Pedro.
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(Foto: Luca Zennano/AFP) |
Jorge Mario Bergoglio, nome de batismo do
argentino, veio ao Rio de Janeiro em julho de 2013 para participar da Jornada
Mundial da Juventude (JMJ), encontro de jovens promovido pela Igreja Católica
para mobilizar uma faixa etária na qual tem um número cada vez mais escassos de
fiéis.
A fumaça branca anunciando Francisco como
novo chefe da Igreja havia saído da chaminé da Basílica de São Pedro 131 dias
antes de seu desembarque no Galeão.
E se Francisco só se tornou Pontífice
devido à renúncia inesperada de seu antecessor, Bento XVI — o primeiro a
abdicar do cargo em quase seis séculos — sua viagem inaugural também foi uma
herança do alemão.
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(Rio 2013. Foto: Stefano Rellandini/AFP) |
A JMJ habitualmente ocorre de três em três
anos, mas naquela ocasião havia sido antecipada para 2013 devido à Copa do
Mundo que o Brasil sediaria no ano seguinte.
Ao chegar no país na tarde do dia 22 de
julho, uma segunda-feira, Francisco disse em uma cerimônia de recepção no
Palácio da Guanabara:
“Deus quis que minha primeira viagem
fosse ao Brasil”, afirmou ele.
Foi uma coincidência bem-vinda: o retorno
do primeiro Papa latino-americano ao seu continente natal, e o país com a maior
população católica do mundo, mas com baixo número de fiéis ativos e com um
crescimento rápido de outras denominações cristãs.
E, na época, a euforia ao redor do
Pontífice e das perspectivas de mudança na Igreja era enorme.
Para o Rio, o evento foi um teste
importante para a Copa e para as Olimpíadas de 2016.
Segundo o Ministério do Turismo, a JMJ
trouxe a maior movimentação de turistas da História brasileira até aquele
momento: ao todo, 355 mil pessoas de 175 países vieram em peregrinação ao
Brasil, além de outros 220 mil viajantes brasileiros e milhões de cariocas que
se juntaram às cerimônias.
Em seu desembarque, Francisco foi recebido
na base do Galeão pela então presidente Dilma Rousseff, pelo então governador
Sérgio Cabral, e pelo prefeito Eduardo Paes — na época, em seu segundo mandato.
De lá, ficou preso no trânsito do Rio em
seu trajeto até o Centro: equívocos no esquema de trânsito fizeram com que o
Pontífice ficasse preso em um engarrafamento na Avenida Presidente Vargas,
próximo à Central do Brasil.
O carro chegou a ser cercado por fiéis
também na altura do Sambódromo e da Avenida Passos, e vários deles conseguiram
encostar no religioso enquanto a comitiva se dirigia para a Catedral
Metropolitana.
A quebra de protocolos de um Papa afeito
ao contato com os fiéis e a quebra de formalidades, contudo, foi uma das marcas
de sua passagem pelo Brasil.
Francisco circulou de Papamóvel nas ruas
do Centro, acompanhado por milhares de peregrinos, antes de seguir em carro
fechado para o Palácio da Guanabara.
Do lado de fora da sede do governo
estadual, oito pessoas ficaram feridas e outras oito foram presas durante as
manifestações, resquícios dos protestos de junho de 2013.
O segundo dia do Papa no Brasil foi de
descanso, antes de seguir para Aparecida do Norte, onde reuniu uma multidão de
aproximadamente 200 mil pessoas — apesar da chuva e da temperatura baixa — para
uma missa em que alertou contra o fascínio do dinheiro, do poder e do prazer.
Retornou ao Rio no mesmo dia para visitar
o Hospital São Francisco de Assis da Providência de Deus, onde inaugurou uma
ala para o tratamento de dependentes químicos e fez um forte discurso contra a
legalização das drogas:
“Não é deixando livre o uso das
drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá
reduzir a difusão e a influência da dependência química”.
A JMJ começou no terceiro dia de Francisco
no Brasil: as atividades do Campus Fidei, em Guaratiba, precisaram ser
transferidos para Copacabana devido ao lamaçal.
Após uma cerimônia restrita no Palácio da
Cidade, onde recebeu de Paes as chaves do Rio, o Papa foi à Favela da Varginha,
em Manguinhos.
Durante a tarde, o Pontífice se encontrou
com jovens argentinos na Catedral Metropolitana, antes de seguir para a missa
de abertura da JMJ, na Praia de Copacabana.
Recepcionado como um popstar pela
multidão, beijou inúmeros bebês no trajeto entre o Forte de Copacabana e o
Leme, onde ficava o palco.
Pontífice se voluntariou para negociar a
paz: Francisco diz que guerra na Ucrânia envolve 'interesses imperialistas'
O quarto dia da visita papal começou
ouvindo as confissões de cinco jovens na Quinta da Boa Vista.
Mais tarde, Francisco se reuniu também com
jovens detentos no Palácio São Joaquim, na Glória, a sede da Arquidiocese do
Rio.
Lá, reagiu à violência policial contra
pessoas em situação de rua, afirmando:
“Violência não! Só amor! Candelária
nunca mais”, disse ele, referindo-se à chacina de 1993 que deixou oito
jovens mortos.
Mais tarde, Francisco participou da Via
Sacra acompanhada por 1,5 milhão de fiéis em Copacabana, e fez um discurso
metade em português, metade em espanhol.
Fazendo uma menção indireta aos protestos
que eclodiram no país no mês anterior, disse que a Igreja é solidária com os
jovens que perderam fé nos políticos devido à corrupção.
Fez ainda um improviso pedindo orações
para os 242 jovens que haviam morrido em janeiro daquele ano no incêndio da
boate Kiss, em Santa Maria (RS).
O penúltimo dia do Papa no Brasil foi
marcado por uma missa para religiosos na Catedral Metropolitana e por um
discurso no Teatro Municipal.
Lá, falou abertamente sobre as
manifestações pela primeira fez, defendendo o "diálogo construtivo"
como solução e afirmando que "o futuro exige a tarefa de reabilitar a
política".
A JMJ chegou ao fim em 28 de julho, dia
que começou com um discurso de Francisco defendendo uma grande reforma na
Igreja para aumentar o diálogo com as bases e com as novas gerações — algo que
o Papa vem tentando fazer com seu processo de consulta popular sobre o futuro
da Igreja e a tentativa de tornar a instituição menos europeia.
O ponto alto, contudo, foi a missa de
Envio, que reuniu quase 3 milhões de pessoas em Copacabana.
(De O Globo em 13/03/2023)
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