domingo, 16 de fevereiro de 2025

UM CANTO VITAL (A CRÔNICA DE DOMINGO)

Por Heron Cid*
Com a câmera ligada, e alguns questionamentos já gravados, mirei o microfone e perguntei no alvo: “Quem é Vital Farias”?
Da boca do filho de Taperóa, a resposta embargada: “Um matuto da roça”!
Como chuva no Cariri, dos olhos do trovador desaguaram rios de emoção e nostalgia, transbordando um coração encharcado.
Guardo na viva memória essa cena do meu primeiro encontro com o cantor e compositor de Veja (Margarida).
O que, sem avisar, partiu para a ‘cidade garantida’ da eternidade.

Era uma entrevista para o Pingo Quente, um quadro político que apresentava no Jornal da Correio, da TV Correio, em 2010, ano em que o cantador trocou por alguns meses a viola e desafiou as regras prontas do jogo da política e foi rimar seus versos como candidato ao Senado.
Movido pelo instinto de rebeldia cidadã, foi às urnas e obteve delas 58 mil votos pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Por óbvio, não ganhou a eleição.
Afinal, já estava eleito, há muito tempo, como mestre do cancioneiro popular do país, com suas Ai que Saudade de Ocê, Saga da Amazônia, Caso Você Case…
A lembrança pessoal sobre a flagrante sensibilidade humana, poética e campesina de Vital foi apenas uma amostra entre tantas. 
Um homem marcado pela rudeza das lidas da vida, mas profundamente tocado pela beleza das coisas simples.
Coisas que cantou e imortalizou em suas letras de protestos, de amor e convites à reflexão.
Com Rolando Boldrin, Vital também não teve vergonha de sangrar os olhos diante de um ‘Senhor Brasil’ inteiro ligado na TV Cultura.
Também foi às lágrimas, cantando com a filha Giovana.
Numa de suas últimas aparições, no programa de Jessier Quirino, também caiu no choro cantando ao lado dos dois filhos mais novos.
Foi essa humanidade à flor da pele que o transportou do solo árido para o reconhecimento nacional, sem nunca perder a raiz.
E, portanto, se mantendo casto, inteiro, interiorano.
Ganhou o mundo, sem se perder da sua aldeia.
Em vida, soube ser um cantador do seu tempo, tendo a coragem caririzeira de nadar contra as correntezas do mercado de sucessos fáceis.
Na morte, ficou gravado entre nós em canções tão plangentes, quanto seu pranto que nenhuma barragem conseguiu represar. Foi e continua Vital.
Mesmo que o arco-íris mude de cor.
*Jornalista desde 2007 pela UFPB.
Apresentador de rádio e televisão, entrevistador, articulista político, fundador e diretor do Portal MaisPB e da Rede Mais Conteúdo.
Contato: heroncid@maispb.com.br
(Por heroncidmaispb.com.br)

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