Morreu nesta quarta-feira (26/03) o
prefeito de Belo Horizonte (MG), Fuad Noman (PSD), aos 77 anos.
Ele sofreu uma
parada cardiorrespiratória na noite de terça-feira, 25, em meio ao
tratamento das sequelas em razão do câncer.
Ele estava internado no Hospital
Mater Dei desde o dia 3 de janeiro e após o ocorrido o quadro dele era
considerado "bastante grave".
No dia 29 de janeiro chegou a ter alta da
UTI, mas permaneceu na unidade hospitalar, sob cuidados médicos.
Segundo o último boletim médico desta
quarta-feira, 26, Fuad "foi reanimado, mas evoluiu com choque
cardiogênico necessitando de doses elevadas de drogas vasoativas e inotrópicas".
Ele estava respirando com ajuda de
aparelhos e sendo medicado.
Após a parada cardiorrespiratória, também surgiu um
quadro de insuficiência renal aguda, e o prefeito não resistiu.
Fuad Noman foi reeleito como chefe do
Executivo de Belo Horizonte nas eleições do ano passado, mas não chegou a
exercer o novo mandato.
Ainda em 1º de janeiro, dia da posse, o
político participou da cerimônia de forma virtual, por questões de saúde.
Em tratamento contra um câncer e com a
imunidade baixa, Fuad foi orientado a evitar contato com grandes aglomerações.
Nas eleições de 2024, Fuad Noman foi o
prefeito eleito mais velho de uma capital brasileira.
Em seu discurso feito virtualmente no dia
de posse, ele comentou o motivo de estar na política.
"Muita gente tem me perguntado
desde a eleição o porquê de eu estar aqui. Pessoas que me conhecem e até mesmo
desconhecidas têm curiosidade para saber as razões de um homem de 77 anos, com
a situação financeira resolvida, decidir entrar na política e disputar uma
pesada eleição, em vez de curtir os netos ou viajar para conhecer os países que
tem vontade de visitar", afirmou o político na época.
CARREIRA POLÍTICA
Economista e servidor de carreira do Banco
Central, atuou em governos do PSDB e integrou a equipe do Ministério da Fazenda
que implementou o Plano Real.
Foi secretário dos governos tucanos de
Aécio Neves e Antônio Anastasia em Minas Gerais, mas era um nome pouco
conhecido dos belo-horizontinos até ser eleito vice-prefeito em 2020, ascender
à chefia do Executivo durante o mandato e se reeleger no ano passado.
Com família de origem síria, Fuad nasceu
no bairro Carlos Prates, na região Noroeste da capital mineira, mas passou a
infância e a adolescência no vizinho Padre Eustáquio.
Católico, era devoto do sacerdote que foi
beatificado pela Igreja em 2006 por ter curado o câncer de um colega.
Foi justamente a doença, que atacou o
sistema linfático, que fragilizou a saúde do prefeito.
O linfoma não Hodgkin, descoberto em julho
do ano passado, não impediu Noman de se candidatar à reeleição.
Ele realizou o tratamento ao mesmo tempo
em que administrava a cidade e fazia campanha.
Entre o primeiro e o segundo turno, em
outubro, anunciou que estava curado.
As complicações, porém, não tardaram a
aparecer.
Ele foi internado quatro vezes desde que
venceu o pleito, pelos mais diversos motivos: dores nas pernas, pneumonia,
sinusite, sangramento intestinal, diarreia e, por último, insuficiência
respiratória.
Álvaro Damião (União Brasil) assume
definitivamente o comando da Prefeitura, posto que ocupava interinamente desde
que Fuad se licenciou no início do mês.
De trato cordial e fala mansa, Fuad Noman
tinha como marca registrada o uso do suspensório.
Dizia que o acessório, do qual possuía uma
coleção com cerca de 50 peças, é mais confortável por apertar menos a barriga
do que o cinto.
Gostava de contar histórias,
principalmente as vividas no Banco Central e de quando morou com a família em
Cabo Verde, onde atuou como consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI)
para estabilizar a economia do país.
Também contava que foi "chefe"
de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), no governo de
Fernando Henrique Cardoso.
Fuad era secretário-executivo da Casa
Civil da Presidência da República, enquanto Mendes era subchefe para Assuntos
Jurídicos do mesmo ministério.
Anos antes, o mandatário fez parte da
equipe econômica que elaborou o Plano Real, iniciativa que colocou fim ao
crescimento desenfreado da inflação e estabilizou a economia brasileira.
"Tinham os economistas de
renome que bolavam o plano e tinham as pessoas mais operacionais, que era o meu
caso. Eu coordenei o grupo que cuidava das instituições financeiras federais,
para que a gente tivesse um plano de ação preparado para manter as instituições
funcionando sem nenhum problema, o que acabou acontecendo", disse
Fuad em uma entrevista ao jornal O Tempo em setembro do ano passado na qual
falou sobre sua trajetória.
Embora não fosse propriamente
progressista, o ex-tucano apoiou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) a presidente em 2022 e subiu no palanque do petista em comícios realizados
em Belo Horizonte.
A eleição daquele ano também sacramentou o
rompimento com Kalil — o prefeito não fez campanha para o aliado sob o
argumento de que precisava administrar a cidade.
O período na Prefeitura coincidiu com o
florescimento da veia literária de Fuad.
Ele publicou três livros: o "Amargo e
o Doce" (2017), com elementos aparentemente autobiográficos, já que conta
a história de um garçom, profissão que o prefeito também exerceu no restaurante
do pai; "Marcas do Passado" (2022), que aborda a trajetória de uma
mulher vítima de violência e abuso; e "Cobiça" (2020), alvo de
ataques de bolsonaristas que acusaram a obra de fazer apologia à pedofilia por
citar o estupro coletivo de uma criança de 12 anos.
No tempo livre, Fuad se dedicava ao jardim
e aos animais que criava em um sítio que possuía em Baldim (MG), município de 7
mil habitantes que fica a duas horas de carro de Belo Horizonte.
Ele deixa a
esposa, Mônica, dois filhos, Paulo Henrique e Gustavo, e quatro netos: João
Pedro, Mateus, Isabela e Rafael.
(www.terra.com.br)
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