O pediatra Fernando Cunha Lima, preso na manhã desta sexta-feira (07/03), estava em um imóvel alugado com a esposa no município de Paulista, em Pernambuco, e tinha uma rede de apoio para continuar foragido.
A prisão foi realizada pela Polícia Civil
da Paraíba, e o médico foi trazido para a Central de Polícia, em João Pessoa.
Ao g1, a defesa do médico afirmou que ele
pediu para ser preso e cumprir prisão em Recife por temer sua integridade
física e por ser o local onde mora sua família.
No entanto, a Polícia Civil afirma que o
médico pediu para ser trazido para a capital paraibana, com a mesma
justificativa, e defende que não houve ilegalidade durante a prisão.
Durante uma coletiva de imprensa, a
Polícia Civil afirmou que o médico estava morando em um bairro de classe média
baixa.
A equipe identificou o imóvel onde ele
vivia, foi até o local e a esposa do médico abriu a porta para os policiais.
Nesse momento, eles já conseguiram
visualizar o pediatra no sofá da residência e deram voz de prisão.
Em um primeiro momento, no mês de
novembro, o médico estava morando na casa da filha, no bairro Casa Forte, em
Recife.
Ele fugiu uma semana antes de a Polícia
Civil ir até o local e realizar uma busca na residência.
“Ele se deslocou para a cidade de
Paulista, pulou para diversos endereços, e hoje nos revelou que estava neste
endereço já fazia alguns meses. Disse que não estava tendo contato com os
familiares, apenas por telefone”, afirmou o delegado da Draco, Rafael
Bianchi.
De acordo com a Polícia Civil, os
investigadores sempre identificaram o rastro do médico na Região Metropolitana
de Recife, em Pernambuco.
O pediatra sempre ficava em residências e
não se expunha na rua.
A esposa também não foi mais vista, mas ainda se
arriscava e ia até comércios.
Por isso, identificaram onde o acusado
estava.
Ainda segundo o delegado Rafael Bianchi, o
pediatra recebia apoio de pessoas de fora da família, que davam suporte
logístico, como alimentação, compra de remédios, aparelho celular e chip de
celular.
“Colocar a polícia para andar, para
passar o CPF para A e para B, para efetivar compras em alguns lugares, para dar
a ideia de que não está naquela localidade. Olha só a gravidade! Além do
cometimento, há uma instrução de como burlar, há um poderio econômico e uma
estrutura para burlar o aparato de justiça do nosso estado”, comentou o
delegado André Rabelo.
O médico foi apresentado à Polícia Civil
da Paraíba, em João Pessoa, fez exame de corpo de delito e deve retornar a
Pernambuco, onde passará por audiência de custódia.
Depois, em data ainda não definida, deve
retornar para a Paraíba.
De acordo com a Polícia Civil, o pedido de
prisão não poderá ser reavaliado ou suspenso pela Justiça de Pernambuco.
PEDIATRA DIZ QUE NÃO VAI FICAR
PRESO: ‘VOU FICAR SÓ DOIS DIAS E SAIO’
O médico Fernando Cunha Lima afirmou que
tinha certeza de que não continuaria preso.
Quando chegou à Central de Polícia, em
João Pessoa, concedeu entrevista à imprensa.
“Agora, com a minha doença, eu não
vou ficar preso”, afirmou.
O médico é questionado por um repórter se
tinha certeza do que afirmava, e ele responde: “Tenho certeza. Eu vou
ficar só dois dias e saio".
Durante coletiva de imprensa, o
delegado-geral André Rabelo afirmou que o médico debocha da situação.
“O que chama atenção é um alvo com
idade já avançada, instruído, e essa forma de debochar do Estado, de debochar
da Justiça”, afirmou o delegado-geral.
“Ao invés de tentar responder,
resolver o problema, não! Vamos esconder e dar uma resposta como essa: ‘Não
passo dois dias preso’. Isso é muito grave! Porque, por trás disso, tem quantas
pessoas? Quantas crianças? Seis a gente conseguiu elencar, mas quantas ao longo
dessas décadas? Filhos meus, filhos dos senhores aqui, de todos nós aqui. Isso
é muito grave. Quer nitidamente burlar a legislação, nitidamente quer
transgredir mais uma vez. Transgredir diante da transgressão”, afirmou
o delegado André Rabelo.
Na entrada da Central de Polícia, o médico
também afirmou que era inocente e disse que estava foragido porque não queria
ser preso.
Ele afirma que estava em Pernambuco porque
a filha morava lá e que não se entregou antes porque os advogados não o
orientaram a fazer isso.
Ele também negou que abusou das vítimas.
Ele é acusado de abusar de seis crianças
dentro do próprio consultório.
Duas sobrinhas do médico também afirmaram
que sofreram abusos durante a infância.
O QUE DIZ A DEFESA DO MÉDICO?
A defesa do médico afirmou, em nota, que
entrou com um habeas corpus em favor de Fernando Cunha Lima contra o fato de a
Polícia Civil ter trazido o médico para João Pessoa.
A Justiça entendeu, em decisão divulgada
na noite desta sexta, que a audiência de custódia deve acontecer de fato em
Pernambuco, local da prisão.
Ainda segundo a defesa, desde 21 de
fevereiro, o médico pediu para ser preso e cumprir sua prisão no Recife por
temer por sua integridade física e por ser o local onde mora sua família.
No entanto, o delegado Rafael Bianchi
afirmou que trouxeram o pediatra para João Pessoa após um pedido do próprio.
Ele afirmou à Polícia Civil que preferia
ficar perto da família, já que a maior parte dela está em João Pessoa e apenas
uma filha está em Recife.
Ainda segundo o delegado, existe
jurisprudência pacificada, por economia processual e pela resolução do TJ da
Paraíba, de que o juiz plantonista do estado que decretou a prisão pode fazer a
apresentação nesse estado, e assim o fizemos.
Por isso, defendeu que não houve nenhum
tipo de ilegalidade.
AS ACUSAÇÕES CONTRA O MÉDICO
A primeira denúncia formal de estupro de
vulnerável contra o pediatra Fernando Cunha Lima aconteceu no dia 25 de julho e
foi tornada pública na quinta-feira (06).
A mãe da criança, que estava no
consultório, disse em depoimento que viu o momento em que ele teria tocado as
partes íntimas da criança.
Ela informou que na ocasião imediatamente
retirou os dois filhos do local e foi prestar queixa na Delegacia de Polícia
Civil.
Após a primeira denúncia, uma série de
vítimas começaram a procurar a Polícia Civil, inclusive uma sobrinha do médico
em 1991.
O médico pediatra acusado de estuprar
crianças, em João Pessoa, atendia a maioria das vítimas desde bebês e tinha a
confiança das famílias.
Fernando Paredes Cunha Lima é um pediatra famoso na
capital paraibana e tinha uma clínica particular no bairro de Tambauzinho.
O Ministério Público pediu a condenação do
acusado por quatro crimes cometidos contra três crianças, uma vez que uma das
vítimas foi abusada duas vezes.
Porém, o número de vítimas foi
recalculado.
O médico responde judicialmente por
estupro contra seis crianças.
Em um primeiro processo, são quatro vítimas, e em
um segundo, há mais duas.
Com a repercussão do caso, as sobrinhas do
médico também procuraram a polícia para denunciar que tinham sido abusadas por
ele na infância.
O pediatra tem 81 anos e cuidou de várias
gerações de crianças em João Pessoa.
Desde o início das investigações, a
polícia e o Ministério Público estadual pediram a prisão dele em cinco
ocasiões, todas negadas.
Mas, em novembro de 2024, os desembargadores da Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba decidiram acolher o recurso do MP de
forma unânime determinando a prisão dele pela primeira vez.
“A necessidade de impedir possível
reiteração delitiva justifica nesse momento e sob minha ótica, a decretação da
prisão preventiva, com respeito às demais entendimentos, para garantia da ordem
pública”, afirmou o desembargador Ricardo Vital.
(Do g1 PB)
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