O médico Milton Seigi Hayashi, condenado a 14 anos e 4 meses de prisão por estupro de vulnerável, foi homenageado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) em um evento promovido pela Associação Brasileira das Forças Internacionais de Paz no último dia 27 de março.
A instituição informou que Hayashi foi
indicado pelo seu departamento de saúde "após análise de documentos,
informações prestadas pelo médico e notícias encontradas em redes sociais, bem
como referências apresentadas pelos seus 25 anos de serviços prestados como
médico, não se tendo conhecimento do processo criminal informado".
Segundo a Justiça de São Paulo e denúncia
do Ministério Público, o crime aconteceu em 2022, na residência de Milton
Hayashi, durante uma visita da sobrinha.
De acordo com os autos, durante uma
interação na piscina, o médico tocou a vulva da vítima, que tinha 9 anos à
época.
No dia seguinte, Milton conversou
pessoalmente com a mãe da criança, que gravou o diálogo.
Na ocasião, o médico chegou a confessar o
crime e disse estar arrependido e "morrendo de vergonha".
Segundo a 1ª Vara Criminal de Birigui, a
materialidade delitiva ficou provada em razão de diversos elementos, como
registro de boletim de ocorrência, relatório da Polícia Civil, a própria
gravação da conversa e a prova oral colhida "sob o crivo do
contraditório e da ampla defesa".
Na decisão de primeira instância, Milton
foi condenado a 16 anos e 4 meses de reclusão — a pena foi aumentada em razão
de ele ser tio da vítima.
Após recurso do médico, a pena foi reduzida em dois
anos, mas a decisão de primeiro grau foi confirmada pela 8ª Câmara de Direito
Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo.
O g1 entrou em contato com o Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) para saber se a situação
de Milton permanece inalterada após a condenação por estupro em duas
instâncias, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Seu registro como médico especialista em
cirurgia plástica segue ativo.
Em nota, a Alesp disse que o evento
mencionado é de inteira responsabilidade da associação e que o espaço foi
solicitado pelo gabinete do deputado Capitão Telhada (PP) - filho do
ex-deputado Coronel Telhada, atual subprefeito da Lapa.
"Cabe ressaltar que esse item
distribuído - Medalha Cinquentenário das Forças de Paz do Brasil - não está
entre as honrarias oficiais do Parlamento Paulista", afirma o texto.
REPERCUSSÃO APÓS HOMENAGEM
Ao agradecer a homenagem, o médico disse
que a medalha recebida "representa o que eu acredito: a cirurgia
plástica é sobre dignidade, autoestima e transformação de vidas — especialmente
de quem mais precisa. Meu sentimento é de alegria, gratidão e responsabilidade
renovada".
O Ministério Público de São Paulo foi
informado que, durante a solenidade, foi cogitada a possibilidade de o réu
fazer uma viagem ao Japão a pretexto de receber uma outra homenagem naquele
país, mas com suposta intenção de fuga do Brasil.
Em razão disso, o órgão solicitou a
apreensão do passaporte do acusado.
As autoridades então foram informadas de
que o passaporte de Milton Seigi Hayashi já havia sido apreendido em 2022, mas
ainda há o receio de que o médico tenha outros documentos que possibilitem sua
saída do país.
O g1 entrou em contato com o Tribunal de
Justiça e com a Polícia Federal para obter mais detalhes, incluindo o motivo de
o médico não estar preso, apesar da condenação em duas instâncias, e aguarda
retorno.
Em nota, a Associação Brasileira das
Forças Internacionais de Paz disse que não tinha conhecimento da ação criminal
antes da solenidade e que, após ser informada, irá instaurar um procedimento
interno para avaliar se a honraria dada ao médico poderá ser cassada.
(Do g1)
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